Preparem-se: Corolla passará a ser sinônimo de SUV no Brasil a partir de 2021
Lançamento do Corolla Cross nos próximos meses deve ofuscar o tradicional sedã da Toyota, assim como ocorreu com o Civic ao ganhar a companhia do HR-V
Se repetir o mesmo roteiro do Civic após o lançamento do HR-V, o Corolla deve virar um coadjuvante no portfólio da Toyota no Brasil. E tudo indica que isso ocorrerá dentro de alguns meses, quando o Corolla Cross for lançado no mercado nacional. A diferença em relação a Honda é que a Toyota fará do SUV o novo sinônimo da marca “Corolla” no Brasil caso mantenha seu nome, o que é bastante óbvio já que a montadora não costuma inventar denominações regionais.
Desenvolvido como um produto voltado para mercados emergentes, o Corolla Cross estreou na Ásia e anda fazendo bonito por lá. É bastante provável que isso ocorra no Brasil, onde as chances de o SUV ser o modelo mais vendido da Toyota são enormes.
Não faltam condições para isso: a fábrica de Sorocaba possui capacidade de sobra, ainda mais com o ocaso do Etios. Por compartilhar componentes com o sedã Corolla, o novo utilitário esportivo não sofrerá muito com a curva de produção e, claro, ele deverá contar com uma demanda imensa de clientes fiéis, ávidos por um SUV da marca.
Esse mais do que provável sucesso, no entanto, traz consigo a famosa “canibalização” de outros produtos. Nesse caso específico, a vítima é o tradicional sedã médio, líder absoluto da categoria desde 2014, quando tomou de volta o primeiro lugar do Civic.
E é justamente o rival da Honda que ilustra muito bem o efeito da chegada de um irmão SUV. Desde 2015, quando o HR-V foi lançado no Brasil, o sedã perdeu sua “majestade”. Logo no primeiro ano, o Civic emplacou 31 mil unidades contra quase 51 mil do SUV compacto. Desde então, a participação do modelo médio nas vendas da montadora japonesa oscila entre 17% e 24% - para quem em 2008 chegou a responder por 58% dos emplacamentos.
É fato que o Civic também já vinha sofrendo a concorrência de outro Honda, o City, um sedã mais convencional e barato, mas o advento do HR-V tirou qualquer possibilidade de recuperar o terreno perdido.
O exemplo da Honda não é o único. A Chevrolet viu o Cruze ter sua participação pulverizada em sua linha de produtos. O sedã chegou a ter 6% das vendas em 2012, mas bastou a montadora passar a importar o Tracker do México para o Cruze não conseguir mais que 5% do bolo.
Mas o Tracker mexicano não era um produto com potencial para causar estragos já que sofria com a logística mais complicada além de ser um veículo um tanto antigo. Foi no ano passado, no entanto, que a Chevrolet viveu a inversão de papeis entre o Cruze e o novo Tracker, este sim, um veículo mais atual e, sobretudo, fabricado no Brasil. O resultado foi acachapante: enquanto o SUV ficou com 14,6% das vendas, o sedã argentino mal chegou a 2,6% de participação.
Público cativo
O cenário para o Corolla não é muito diferente. O sedã médio vem sofrendo uma diluição de sua participação na Toyota desde a introdução do Etios e do Yaris, modelos compactos de volume significativo. Se o modelo médio beirava 60% das vendas da montadora em 2009, no ano passado ele representou metade disso.
É de se imaginar que o Corolla Cross tenha potencial para emplacar mensalmente ao menos 3 mil unidades, mas esperar 5 mil emplacamentos não é exagero, dependendo da estratégia de preços da Toyota.
A Honda trata o HR-V como um produto menor que o Civic e por isso ambos transitam na mesma faixa de preços, entre R$ 105 mil e R$ 150 mil – a equiparação está no diferencial SUV, a despeito do sedã ser um produto muito superior tecnicamente.
Já a Toyota cobra atualmente entre R$ 121 mil e R$ 159 mil pelo Corolla, mas o Corolla Cross é um carro maior que o HR-V e portanto deve custar mais. A referência é o Jeep Compass, um SUV meio-médio que tem preços entre R$ 136 mil e R$ 173 mil nas versões flex.
Se o Corolla Cross for vendido na faixa entre R$ 140 mil e R$ 180 mil haverá um espaço de sobrevivência para o Corolla sedã, um veículo com público cativo, mas não será um espanto se muitos clientes optarem por gastar mais para ter um produto desejado.
Por isso é possível acreditar que os bons tempos do Corolla como o conhecemos já se foram. O sedã, que chegou a vender 67 mil unidades em 2015, deve se contentar com bem menos que isso, talvez algo como 30 mil a 36 mil emplacamentos por ano, para sermos otimistas. Assim mesmo, uma marca respeitável para um produto que ainda é sinônimo de sedã.