Entenda como o Corolla Cross se compara aos rivais e o irmão sedã
Novidade da Toyota, primeiro SUV nacional terá uma função estratégica para a marca no Brasil. Entenda onde ele se encaixará no mercado
Colocando um pouco de lado a objetividade dos dados técnicos e mecânicos, existem alguns ingredientes subjetivos na receita do Corolla Cross que devem ajudá-lo a alcançar, com relativa tranquilidade, a meta da Toyota de emplacar 3.500 unidades/mês do SUV médio produzido em Sorocaba (SP).
O primeiro deles fica por conta da reputação que a marca alcançou no Brasil ao longo dos anos, em especial pela confiabilidade de seus veículos e o bom atendimento prestado por sua rede de concessionárias. Essas qualidades pesaram para que Corolla e Hilux se tornassem as referências do público brasileiro quando falamos em sedã ou picape média. Aliás, esse mérito não ocorre só no Brasil, uma vez que o Corolla segue firme na posição de carro mais vendido do mundo.
Por tudo isso, ao reunir a credibilidade da marca com a reputação de 55 anos de história do Corolla e embalar tudo isso em uma carroceria SUV, a preferida hoje em dia pela maior parte dos consumidores ao redor do mundo, as perspectivas de sucesso para o Corolla Cross não poderiam ser mais favoráveis.
Mas surge a dúvida: como a novidade da Toyota ficará inserida no mercado nacional envolvendo os principais SUVs do mercado? E colocando o irmão sedã na jogada? Qual seria a compra mais interessante?
Com valores percorrendo a ampla faixa entre R$ 140 mil e R$ 180 mil, o posicionamento do Toyota Corolla Cross vai focar exclusivamente em modelos de médio porte para cima. Questionado pelo AUTOO se a marca vislumbra uma possível migração entre clientes do Corolla ou até do RAV4 para o Corolla Cross, Vladimir Centurião, diretor de vendas, pós-vendas e marketing da Toyota, revelou que a fabricante trabalha com essa possibilidade, mas o novo modelo terá um papel estratégico na gama.
“Uma concorrência interna entre outros produtos pode ocorrer, mas é interessante destacar que contávamos com um bom número de ‘órfãos’ da marca quando procuravam um SUV. Muitos clientes que foram da Toyota acabaram migrando para outras montadoras em busca de um utilitário esportivo. Agora, além de trazer esses clientes de volta, também podemos atrair mais pessoas”, pondera Centurião.
Entre o Corolla e o Corolla Cross, o executivo da Toyota destaca que a questão do perfil dos interessados em cada um dos modelos vai permitir uma coexistência tranquila entre os dois produtos nas concessionárias. “O Corolla tem em seu perfil de clientes um público tipicamente masculino, que valoriza o prazer ao dirigir. Já para o Corolla Cross, trabalhamos com a ideia de que ele será mais procurado pelas mulheres e aqueles que desejam um carro robusto e com muito espaço”, analisa o diretor da Toyota.
Já em uma faixa bem acima em termos de preço, a Toyota importa ao Brasil o RAV4 nas opções S Connect Hybrid (R$ 241.990) e SX Connect Hybrid (R$ 266.990). O SUV em questão se diferencia do Corolla Cross tanto pelo porte (4,60 m de comprimento) como pelo fato de contar com tração integral. Ao menos por enquanto, não está nos planos da marca japonesa entrar no segmento de SUVs compactos, categoria em que a rival Honda está presente com o HR-V.
Corolla Cross vs. Corolla sedã
Como é possível ver na tabela acima, a questão do preço também pode ser um fator para diferenciar os clientes interessados no Corolla daqueles que estão de olho no Corolla Cross. Hoje a versão mais vendida do sedã, a XEi, é tabelada em R$ 129.190. Na gama Corolla Cross, a opção XRE é o catálogo homólogo ao Corolla XEi, contando também com o motor 2.0 Dynamic Force sob o capô. O Corolla Cross XRE estreou com preço sugerido de R$ 149.990 e tanto ele quanto o Corolla XEi contam com o mesmo nível de equipamentos de série. O custo-benefício do sedã, portanto, é bem mais favorável.
Mas vale a pena fazermos algumas ressalvas. Apesar de o Corolla ser o famoso “cheque em branco” no mercado de usados, tamanhas são sua liquidez e baixa desvalorização, a sua contraparte SUV talvez venha a ter uma vida ainda mais fácil na hora da revenda, exatamente por conta do seu tipo de carroceria. O Corolla, entretanto, ainda tem a vantagem técnica da suspensão traseira do tipo multibraço, mais refinada em relação ao eixo de torção do SUV. O porta-malas de 470 litros do Corolla supera em capacidade volumétrica os 440 litros do Corolla Cross, porém é fato que a versatilidade de uso no SUV será melhor.
Corolla Cross vs. outros SUVs
Partindo para uma análise entre os utilitários esportivos, os modelos compactos pouco devem abalar o Corolla Cross. Talvez um Chevrolet Tracker Premier 1.2, considerando seu alto nível de tecnologia embarcada, ou um Volkswagen T-Cross Highline, utilizando como argumento o bom desempenho, poderiam despertar algum interesse no potencial cliente do Corolla Cross que esteja pesquisando entre um site e outro das montadoras. Isto é, ao menos até a Volkswagen colocar no mercado o Taos…
Enquanto a aguardada estratégia de preços e versões do SUV argentino não é conhecida, algo que provavelmente se tornará público em maio, a VW já confirmou alguns pontos importantes sobre ele. O Taos terá somente a opção do motor 1.4 TSI com câmbio automático de 6 marchas, porte semelhante ao do Corolla Cross, e um forte diferencial vai residir em seu porta-malas com 498 litros de capacidade.
A marca alemã ainda promete um catálogo enxuto de versões, talvez contemplando apenas as opções Comfortline e Highline. A variante topo de linha deverá sair de fábrica com um pacote de assistentes de condução completo, na mesma linha do Toyota Safety Sense presente no Corolla Cross híbrido, sendo que o único opcional no Taos Highline deverá ser o teto solar panorâmico. De maneira geral, é certo que o Taos vai atuar na mesma faixa de preço do Corolla Cross e do Compass.
Corolla Cross vs. Jeep Compass
Com isso, finalmente chegamos ao modelo da Jeep. O Compass é a referência entre os SUVs médios e responde, sozinho, por 60% das vendas do segmento. No acumulado deste ano até fevereiro, o Jeep soma 9.663 unidades vendidas e, considerados todos os SUVs do mercado, só vendeu menos do que o VW T-Cross (10.764) e o primo Renegade (12.925), uma prova de que os brasileiros estão dispostos a pagar mais por um veículo que atenda suas necessidades de maneira completa.
É fato que as marcas japonesas têm que lidar aqui no Brasil com o estigma do preço mais elevado em relação aos concorrentes, mas até que, ao alinharmos o Corolla Cross XR (R$ 139.990 preço base nacional) com o Jeep Compass Sport (R$ 135.990 preço base nacional/R$ 138.320 no estado de SP com a nova alíquota de ICMS), podemos dizer que a Toyota fez questão de conferir um custo-benefício competitivo ao seu mais novo SUV.
O Compass Sport traz alguns itens ausentes no Toyota, como o sistema de chave presencial, sensor de chuva e o piloto automático, mas o Corolla Cross XR rebate o concorrente ao oferecer 7 airbags, central multimídia com tela maior (8” no caso contra a de 7” presente no Compass Sport) e toda a eficiência do conjunto motor e câmbio. O Compass, é justo dizer, traz suspensão independente nas quatro rodas. De qualquer forma, nos dois SUVs você já encontra ar-condicionado automático digital, rodas de liga leve aro 17”, rack de teto, entre outros itens.
No intervalo de R$ 150 mil, o qual responde por boa parte das vendas de SUVs médios, não por acaso o Corolla Cross XRE mostra-se bem alinhado em relação ao Compass Longitude flex no que diz respeito aos principais itens de conforto e comodidade.
Olhando bem mais para cima, o Toyota leva vantagem em relação ao Jeep Compass, considerando os catálogos mais completos de cada um. O Corolla Cross XRX Hybrid custa R$ 179.990 na maior parte do território nacional, enquanto o Jeep Compass Limited 2.0 flex é tabelado em R$ 181.790 (preço base nacional), quando equipado com o opcional “Pack High Tech”. Assim configurado, o Compass entrega o mesmo conteúdo superior de tecnologia que o Corolla Cross XRX Hybrid traz de série.
Dessa forma encontramos nos dois SUVs o alerta de pontos cegos, piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência, assistente de permanência em faixa, entre outros. O Jeep tem ainda a vantagem de sair de fábrica em seu catálogo mais equipado com o assistente de estacionamento, item ausente no Corolla Cross XRX, bem como o mecanismo de abertura elétrica da tampa do porta-malas. O Toyota traz teto solar convencional de série na opção topo de linha, enquanto o Compass flex completo pode receber o teto solar panorâmico, cobrindo uma área bem maior da parte superior do carro, porém o item opcional custa R$ 8.300. Para quem valoriza rodas de liga leve que se destacam, o Jeep conta com um jogo aro 19”, enquanto o Corolla Cross XRX traz rodas aro 18” com visual exclusivo da versão.
É importante salientar que a mecânica híbrida do Corolla Cross topo de linha confere ao Toyota um nível de eficiência singular, até o momento não alcançado por qualquer outro SUV nacional. Segundo os dados oficiais, o SUV entrega parcial de 17 km/l na cidade com gasolina. Um Compass Limited 2.0 flex no mesmo cenário registra apenas 8,8 km/l com o mesmo combustível, uma gigantesca diferença a favor do SUV eletrificado.
Logo, a Toyota soube precificar muito bem o Corolla Cross dentro do que é esperado para um SUV médio com produção local. Apesar de 60% do mix de vendas projetado para a novidade ficar por conta da versão XRE 2.0 flex (R$ 149.990), o conjunto propulsor híbrido é um enorme diferencial do modelo para quem considera gastar por volta de R$ 180 mil e também deseja alto nível de tecnologia. Segundo a Toyota, o Corolla Cross XRX Hybrid deverá ser o segundo catálogo mais vendido do modelo, com participação de 25% na procura.
Se a marca Jeep carrega uma imagem aspiracional no Brasil, motivo que certamente colabora para o sucesso comercial que Renegade e Compass alcançaram por aqui, será interessante acompanhar como o segmento vai se comportar de agora em diante, em especial pelo fato de que o Corolla Cross também será respaldado por toda a reputação que a Toyota incute no Brasil quando o assunto é qualidade. De qualquer forma, está claro que o Corolla Cross chega às concessionárias a partir do próximo dia 25 como uma forte alternativa ao Jeep Compass. Claro que ainda nos resta saber o que a Volkswagen está preparando para contra-atacar as concorrentes com o Taos. Com uma disputa acirrada surgindo no horizonte, ao que tudo indica o segmento de SUVs médios será o foco das atenções nos próximos meses. Vamos acompanhar de perto todos os detalhes!