Corolla brasileiro é um dos mais caros do mundo
Engenheiro civil brasileiro precisa trabalhar quatro vezes mais que americano para pagar o sedã da Toyota
Automóvel mais vendido do mundo, o Corolla é um dos modelos mais globais do mercado. É vendido em pelo menos 150 países e mais de 45 milhões já foram emplacados desde seu lançamento em 1966. Além disso, é produzido em nada menos que 16 fábricas mundo afora, incluindo o Brasil.
É por essa razão que o Autoo decidiu escolher o sedã para produzir um exercício curioso e ao mesmo tempo triste sobre o custo de um veículo para o brasileiro. As comparações entre o preço cobrado aqui e em outros mercados é comum, porém, incorrem num erro de cálculo afinal não se pode apenas converter o valor do mesmo produto em diversos países e daí tirar conclusões.
Essa comparação simplista acaba inválida por conta do câmbio. Pegue-se o exemplo atual em que o valor do dólar subiu muito nas últimas semanas. Um Corolla vendido nos EUA custa em torno de US$ 22 mil ou R$ 82 mil com a cotação do fim de maio (R$ 3,73), mas sairia por R$ 77 mil um mês atrás.
Por isso, Autoo buscou colocar os valores em patamares próximos ao medir o poder de compra dos consumidores em vários países do mundo e calcular daí quantos dias de trabalho seriam necessários para pagar um Corolla de uma versão média.
Para tentar buscar uma profissão cujo trabalho é bastante semelhante no mundo optamos por usar o salário médio de um engenheiro civil com três anos de carreira. No site Salary Expert é possível ter uma boa noção desse ganho anual em uma grande lista de países. É óbvio que se trata de um número aproximado e que varia a cada dia. Além do mais, as condições de cada país são variadas, ou seja, o resultado pode ser um pouco diferente, porém, não veremos o Japão ter um carro mais caro que a Índia hoje.
No topo dos piores casos
A conclusão desse levantamento é que o Brasil é um dos lugares onde o Corolla (e outros carros, é claro) custa mais caro no mundo. Mas não é o pior da lista. Esse título cabe à Índia onde um engenheiro precisaria trabalhar dois anos e sete meses aproximadamente para quitar seu carro.
Nossa vizinha Argentina também vai mal: embora o preço convertido do sedã seja mais barato que no Brasil (veja tabela) o salário médio de um engenheiro é bem inferior, assim como na Índia e na Rússia, a 3º colocada.
O Brasil, portanto, vem logo a seguir. Aqui esse engenheiro civil hipotético teria que destinar um ano e uma semana de seu salário para pagar um Corolla XEi, versão intermediária e mais vendida do modelo.
É muito se pensarmos que os americanos precisam de apenas três meses para quitar um Corolla XLE, um dos mais equipados do mercado. Se o brasileiro tivesse o mesmo poder de compra dos EUA, um Corolla XEi sairia por apenas R$ 26 mil, mais barato que um Chery QQ, por exemplo. E pensar que australianos e japoneses (nesse caso o Axio, um primo do Corolla), gastam menos ainda para ter esse veículo.
Impostos extorsivos
O que esse quadro nos mostra é algo que já sabemos: os impostos sobre os veículos no Brasil são extorsivos. A novidade aqui é descobrir que os chilenos compram um Corolla em metade do tempo do brasileiro. Lá o sedã custa 11,6 milhões de pesos, algo como R$ 69 mil. Como um engenheiro civil tem maior poder de compra são necessários cerca de 190 dias para quitar o carro contra 373 dias aqui. Detalhe: o Corolla vendido no Chile é exportado do Brasil.
A carga tributária abusiva acaba criando distorções no mercado nacional que tornaram o Toyota e modelos semelhantes em carros de um “pseudo-luxo”. Em outro países, Corolla, Civic ou Golf são carros compactos e de entrada, já aqui considerados médios. Em outras palavras, o americano, o alemão ou o australiano optam por carros maiores, lá fora considerados de médio porte como seus principais automóveis. Aqui um sedã Camry, irmão maior do Corolla, vende no máximo 20 unidades por mês tamanha a disparidade de preço.
Ou seja, o brasileiro está comprando o carro errado: pagando por um Camry e levando um Corolla, pagando por um Corolla e levando para casa um Etios.
As montadoras, é claro, não são inocentes. Diante desse cenário acabam imprimindo um ar de sofisticação em veículos de construção simples. É só ver como o mercado de SUVs compactos, na maioria releituras de plataformas baratas que deram origem a carros como o Logan, March ou Fit para vendê-los por preços que muitas vezes superam os R$ 100 mil.
País gigante, mercado minúsculo
O efeito nocivo dessa política de preços elevados é que o potencial de vendas de veículos segue muito abaixo a despeito do crescimento nos anos anteriores à crise econômica. E pior: sem capacidade de compra, o brasileiro acaba gastando muito para ter na garagem um veículo modesto, muitas vezes menor do que o necessário e também inseguro, como mostram vários testes de impactos promovidos pelo instituto Latin NCAP.
Embora a presença de carros em quase metade dos domicílios brasileiros pareça grande ainda há um grande mercado a ser explorado seja por quem hoje não tem condições de adquirir um veículo ou de quem acaba mantendo um automóvel antigo funcionando por mais tempo do que o desejado.
Com impostos menores e maior concorrência, as vendas seriam maiores, haveria renovação, mais empregos e nem por isso menos dinheiro nas contas do governo, mas persiste no Brasil a tese de que é melhor ganhar muito em pouco do que ganhar pouco em muito. Enquanto essa ideia vigorar o preço do Corolla e de outros carros continuará no alto de um ranking nem um pouco positivo.