Ter um carro que acabou de sair de linha é um problema?
Interessante pesquisa aponta dados reveladores sobre o tema
É fato que muitos consumidores ainda preocupam-se quando seus carros estão na iminência de sair de linha, temendo que a desvalorização possa se tornar mais acentuada, corroendo o valor do veículo e comprometendo sua liquidez. Com isso, há quem prefira se desfazer do veículo antes que isso ocorra.
Em paralelo, existem pessoas que até enxergam nesses modelos a chance de efetivarem bons negócios, porém acabam desestimulados por imaginarem um cenário de baixa aceitação do automóvel no mercado de usados já pensando na hora da revenda.
Um interessante estudo da Mobiauto publicado nesta semana ajuda a acabar com muitos desses mitos. A start-up do setor automotivo elencou as cotações de 64 modelos e versões que saíram de linha durante a pandemia, levantando seus valores entre março de 2020 e abril de 2021. A pesquisa nos permite chegar a conclusões bastante esclarecedoras, incluindo o fato de que a “descontinuação não é mais uma condenação categórica à alta desvalorização desses modelos”, analisa a Mobiauto.
Segundo a empresa, a média de variação de todo o mercado automotivo foi uma alta de 7% no preços dos veículos ao longo do período da pesquisa. Vale pontuar, entretanto, que estamos no meio de uma época muito atípica, com a escassez de carros 0 km colaborando para elevar a cotação dos veículos usados.
De qualquer forma, a pesquisa da Mobiauto traz números surpreendentes. O Audi A3 Sedan nacional, por exemplo, apresentou no período estudado uma valorização de 20,2% em sua versão Prestige 1.4 TFSI. O modelo, até então produzido no Brasil, teve a fabricação local descontinuada para abrir espaço para a nova geração. Mesmo assim, a procura pelo sedã, como é possível constatar, permaneceu elevada. Chama a atenção também o fato do A3 Sedan enquadrar-se como um carro premium, que, teoricamente, deveria apresentar uma depreciação mais acentuada.
O Toyota Etios, por sua vez, deixou de ser comercializado no Brasil a partir de março deste ano, mas seu preço registrou uma alta de 15% ao longo dos últimos 12 meses considerando a versão X Plus 1.5. Outro compacto que também não é mais vendido aqui, no caso o Nissan March, apresentou um aumento de 13,7% em seu valor de mercado para o catálogo SV 1.0.
“Isso significa que temos 20 modelos que deixaram de ser ofertados como zero km que valorizaram acima de toda a média de mercado, o que, certamente, vai surpreender a maioria dos consumidores. Mas isso não chega a ser uma novidade aqui na Mobiauto: já havíamos notado que essa relação entre carros descontinuados e alta depreciação não era mais obrigatória há algum tempo”, analisa Sant Clair Castro Jr., CEO da Mobiauto, comentando os números da pesquisa.
Ainda de acordo com o empresário, “o mercado automotivo vem sofrendo profundas transformações ao longo dos últimos anos, que inclui a multiplicação de alternativas para buscar peças de reposição mesmo de carros fora de linha, advindas do universo trazido pela internet. Esse dado pode ser transformador na vida dos consumidores brasileiros, à medida que a regra anterior condenava diversos bons produtos ao esquecimento, bem como frustrava alguns consumidores por terem que rejeitar veículos de sua preferência”.
Mas é claro que existem modelos que pedem atenção. Na outra ponta do estudo da Mobiauto, entre os 10 modelos mais depreciados de março de 2020 a abril de 2021, cinco eram da Ford e outros cinco da Citroën. No caso do Ford Fusion SEL, por exemplo, a queda no preço de venda observada foi de 12,7%, com a cotação, em março de 2020, caindo de R$ 128.953 para R$ 112.528 em abril deste ano.
No caso da gama Citroën, quem mais perdeu valor foi o hatch compacto C3 na versão Tendance Pure Tech com motor 1.2, com uma redução de 6,4% em seu valor de mercado. Logo, fica claro que a questão da reputação da marca pode ser algo muito mais preponderante do que o fato do modelo ter a produção encerrada. No caso específico da Ford, ainda conta o fato da decisão da empresa de encerrar suas atividades de manufatura no Brasil, permanecendo no país a partir de agora como uma importadora.
Logo, fica claro que o fato de determinado modelo sair de linha está longe de ser um problema hoje em dia do ponto de vista comercial. Além disso, caso você considere a compra de um carro que deverá ser descontinuado em breve, pode ser a oportunidade de um bom negócio, em especial se o modelo cumpre com todas as suas exigências.