Como o Fiat Argo vai mexer no segmento dos hatches compactos
Com uma ampla gama de versões, novidade da Fiat mira os postos mais altos do ranking de vendas
A Fiat deixou algo bem claro durante o lançamento do Argo para a imprensa especializada: a meta é partir para cima de Chevrolet Onix e Hyundai HB20, encontrando não só um espaço na liderança do segmento de hatches compactos bem como figurar no topo do ranking dos carros mais vendidos do Brasil.
Com isso, o Argo passa a ter um papel de destaque e torna-se um dos principais produtos dentro da atual – e mais enxuta – linha Fiat no Brasil. Ao lado da Toro e da Strada, duas picapes de enorme sucesso no mercado, o Argo soma-se ao time como um dos três modelos que vai preparar o terreno para a retomada da Fiat no mercado. Uma resposta mais forte ao avanço das marcas asiáticas por aqui.
Dentro da própria Fiat, o Argo já substituiu logo de cara o Punto. Além dele, as versões com motor 1.4 (Attractive) e 1.6 16V (Essence e Sporting) do Palio serão descontinuadas nos próximos meses para acomodar com mais facilidade o novo posicionamento do Argo.
Pensando um pouco mais para cima, no andar dos hatches médios, a Fiat praticamente vai deixar o segmento e não sem motivo: basta navegar em nosso ranking de vendas da categoria para ver como elas despencaram ao longo dos anos. Logo, o investimento para importar ou fabricar por aqui um modelo desse porte (lembre-se que a Fiat já tem ele ponto na Europa, no caso o ressuscitado Tipo) dificilmente justificaria toda a complexidade que a operação pede. Foi para não deixar esses clientes órfãos que a Fiat criou uma versão mais esportiva e sofisticada, no caso o Argo HGT, que deverá reunir atributos para fisgar os clientes do extinto Bravo.
Partindo para as versões de maior volume, a Fiat deixa agora sua estratégia bem clara. Com o Mobi e o Uno ela vai focar na gama “baixa” dos hatches, ou seja, modelos até o limite de R$ 45.000 em sua maioria com motorização 1.0. Esse subsegmento representa em torno de 40% das vendas, segundo cálculos da montadora. O Argo, por sua vez, mira nos 60% restantes: versões acima de 1.0 ou com valor imediatamente acima dos R$ 45.000.
Com um volume de vendas mensal estimado em 5.000 unidades para o Argo, a Fiat está sendo muito conservadora levando em consideração que um Chevrolet Onix entrega uma média superior a 13.000 emplacamentos por mês levando em conta os quatro primeiros meses deste ano.
Mesmo assim, a Fiat sabe o bom produto que tem nas mãos e preparou uma estratégia comercial bem calibrada para o Argo. E, de marketing e vendas, é necessário reconhecer que poucas marcas sabem trabalhar tão bem esses atributos como a montadora sediada em Betim (MG).
Ao todo o Fiat Argo contará com sete versões, mesclando três opções de motor e outras três opções de câmbio. Desse total, as configurações Drive responderão por grande parte das vendas do Argo, segundo cálculos – quase sempre muito confiáveis – realizados pela fabricante. Dentro desse universo, o Argo Drive com motor 1.0 Firefly de 3 cilindros deverá registrar uma participação relevante, abocanhando 35% do mix de versões. O propulsor 1.3 combinado com o câmbio manual, por sua vez, deve somar outros 30% e o 1.3 automatizado GSR ficará com 10%.
Partindo de R$ 46.800 na versão Drive 1.0 (ou R$ 48.790 com a central multimídia), alguns leitores aqui do AUTOO comentaram que o valor está alto demais. Só que olhando para o segmento, a situação mostra-se bem equilibrada para o Argo Drive 1.0 em relação ao mercado. O Chevrolet Onix LT 1.0, por exemplo, parte de R$ 47.950 já com a central multimídia MyLink. Mantendo o padrão de comparação, um Hyundai HB20 na versão Comfort Plus com a central blueMedia chega às lojas por R$ 48.530.
Ainda vale destacar que, graças ao projeto moderno, o Argo 1.0 será o único no segmento a oferecer o start-stop de série em todas as versões, recurso que ajuda muito a economizar combustível em especial na cidade. O Argo Drive 1.0 oferece consumo médio de 14,2 km/l com gasolina, a melhor parcial entre Onix LT 1.0 (12,9 km/l) e HB20 1.0 (12,5 km/l). Na estrada, contudo, o câmbio manual com 6 marchas do Onix LT 1.0 faz uma pequena diferença, permitindo-o entregar 15,3 km/l também com gasolina, enquanto o Argo 1.0 praticamente empata com 15,1 km/l. O HB20 1.0, no mesmo percurso, atinge 14,1 km/l.
Subindo no patamar das motorizações, o Argo Drive 1.3 manual se mantém competitivo no segmento, em especial sobre o Onix LT 1.4. Com preço sugerido de R$ 53.900, o Argo 1.3 sai de fábrica com a central multimídia, volante com comandos do sistema de som e a 2ª porta USB para os passageiros no banco traseiro como itens de série. A estratégia da Fiat para essa configuração foi posicionar o Argo Drive exatamente entre as versões LT (R$ 51.650) e LTZ 1.4 (R$ 56.650) do Onix. Ao oferecer um motor com mais potência e torque do que o 1.4 presente no Chevrolet, mesmo com um deslocamento menor o Argo 1.3 manual ainda tem a vantagem do consumo mais favorável na cidade e praticamente empatado com o Onix 1.4 na estrada. Em termos de conteúdo, os dois são equivalentes.
O Hyundai HB20 com motor 1.6 16V e câmbio manual só é oferecido na versão Comfort Plus de R$ 52.380, valor que é mais competitivo do que o pedido no Argo 1.3. Apesar do desempenho superior graças ao propulsor 1.6, ele fica devendo a central multimídia. Em termos de consumo, o Hyundai também deixa a desejar.
Uma aposta arriscada da Fiat vai para o Argo Drive 1.3 GSR, que conta com a versão mais recente do câmbio automatizado utilizado pela marca. Com preço sugerido de R$ 58.900, ele é bem mais caro do que o Chevrolet Onix LT automático (R$ 56.790) e custa ligeiramente menos do que o Hyundai HB20 1.6 Comfort Plus com central multimídia (R$ 59.580). Vale destacar, contudo, que tanto o HB20 como o Onix contam com caixas automáticas convencionais (com conversor de torque), que oferecem muito mais conforto e suavidade nas trocas em relação à caixa automatizada do Argo 1.3 GSR.
O argumento da Fiat, contudo, é que nos R$ 58.900 estão algumas conveniências como as borboletas para realizar as trocas de marchas ao alcance das mãos (recurso ausente nos rivais), além de controlador de velocidade e os importantes controles de tração e estabilidade. Só por essa dupla de segurança, o investimento no Argo já mostra-se justificado, o complicado é ter que lidar com os “soluços” da transmissão automatizada. Por mais que a Fiat tenha conquistado uma evolução ímpar com esse tipo de câmbio, a própria limitação do conjunto não permite que ele se equipare a uma caixa automática em termos de suavidade quando opera em Drive.
Partindo para o alto da gama Argo, chegamos à versão Precision. Aqui, em especial para os consumidores que querem um hatch sem o pedal da embreagem, o jogo torna-se mais favorável para o modelo da Fiat. Oferecida somente com o motor 1.8 16V de até 139 cv, esse será o principal argumento do Argo Precision para se descolar dos rivais. Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Volkswagen Fox, Toyota Etios, dentre outros, não chegam perto desse nível de potência. Segundo a Fiat, o Argo Precision automático 6 marchas deverá responder por 10% do mix de vendas. Outros 5% ficam para o Precision manual.
Tabelado em R$ 67.800, o Argo Precision AT6 custa o mesmo que um Hyundai HB20 1.6 automático completo (com revestimento interno de couro e central multimídia por R$ 67.720), sendo que o Chevrolet Onix LTZ, também automático, fica em R$ 61.950. Além do motor 1.8 16V, só no Argo você encontra os controles de tração e estabilidade e a vantagem de contar, como já mencionamos, com bem mais potência e torque do que Onix 1.4 e HB20 1.6 são capazes de entregar. Mesmo assim, o Argo 1.8 automático consegue ser mais econômico do que o Hyundai. De acordo com os dados do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, o Argo 1.8 automático percorre 10,1 km/l na cidade com gasolina (em grande parte mérito do start-stop) e 13,2 km/l na estrada. O HB20 automático, por sua vez, não supera os 9,9 e 12,5 km/l, respectivamente, também com gasolina.
O Argo Precision também pode tornar-se ainda mais seguro com a inclusão dos airbags laterais por R$ 2.500 e ganhar confortos como o ar-condicionado automático digital, chave presencial com partida por botão, sensores de chuva e crepuscular, retrovisor interno eletrocrômico, dentre outros, presentes no “Kit Tech” de R$ 3.500. Assim como no Argo 1.3 GSR, o 1.8 automático também conta com a opção de trocas sequenciais no volante.
Dentre alguns possíveis concorrentes para o Argo Precision 1.8 manual (R$ 61.800), o Volkswagen Fox Pepper mostra-se um dos mais diretos ao contar com os controles de tração e estabilidade de série e preço sugerido de R$ 61.090. Só que falta ao VW a central multimídia de série e ele ainda não conta com start-stop. Também é importante destacar que, com a chegada da nova geração do Volkswagen Polo, esse sim o concorrente direto da VW para o Argo, o Fox tende a ser descontinuado no médio prazo.
Por fim, chegamos às versões esportivas do Fiat Argo, a HGT 1.8 manual de R$ 64.600 e a HGT 1.8 automática de R$ 70.600. Ao oferecer itens como as rodas de liga leve aro 16”, suspensão com acerto esportivo e todo o visual que se espera de um modelo com essa proposta, a Fiat aposta em um nicho bem procurado entre os hatches compactos, no caso as versões “esportivadas”. Segundo a Fiat, as configurações HGT, considerando as duas transmissões, deverão responder por 10% das vendas do Argo.
Analisando todos os dados do Argo, fica claro que a Fiat concebeu o modelo de uma maneira para entregar um conjunto bem competitivo, sobretudo do ponto de vista mercadológico, em relação a turma hoje liderada em vendas pelo Chevrolet Onix. Com um interior caprichado, ótimas sensações ao volante e bons pacotes de segurança, conectividade e equipamentos, o Fiat Argo tem tudo para alcançar o topo do ranking de vendas brasileiro. Vamos acompanhar, a partir deste mês, como ficará o cenário.