Com picape Toro, Fiat aprendeu a fazer carro premium
Enfim, a fabricante italiana, tão experiente em modelos de luxo em suas coligadas, conseguiu produzir um veículo atraente e com tecnologia de ponta
Não que a Fiat não tenha criado alguns modelos mais sofisticados e clássicos em sua história – basta ver alguns exemplos como o próprio (e novo) 500 ou o Spider, mas na maior das vezes a marca teve muitas dificuldades para estar no segmento de cima.
Uma ironia, afinal ela é dona da Ferrari, Maserati e Alfa Romeo, marcas de prestígio no mercado de luxo. Mas não é que agora, ao se juntar a Chrysler, a Fiat tenha descoberto como fazer um carro mais requintado e, sobretudo, atraente?
Já deu para sacar que estamos falando da Toro, a inusitada (para dizer o mínimo) picape nem compacta nem média, muito menos de trabalho e mais com cara de lazer e família.
Sim, a Toro é desses carros que dificultam a vida de jornalistas especializados. Ficamos quebrando a cabeça para defini-la, mas o público em si não se importa. Cabe no meu bolso? É bem equipada? Leva o que eu preciso? Então pode chamar de qualquer definição, até mesmo a invenção da Fiat, SUP (Sport Utility Pick-up, algo como picape utilitária esportiva).
O importante é que a Toro é, sobretudo, um carro versátil. Faz vários papéis sem reclamar: serve como carro do dia a dia, leva uma família, mas não cinco adultos fortinhos, tem equipamentos esperados, versões competitivas, é diversão certa no fim de semana e, claro, leva uma tonelada na caçamba, de fácil acesso porque você não vai precisar escalá-la para colocar qualquer objeto.
Ainda tem a cereja no bolo: a Toro é bonita, mais bem resolvida que a Renault Oroch, por exemplo.
Anda bem e é prazerosa de dirigir
No evento de lançamento, andamos em quase todas as versões – faltou a Freedom manual 4x4 apenas. Da Freedom manual 4x2 podemos dizer que câmbio manual não combina com a picape. Claro, tem que respeitar o consumidor e o câmbio de 6 marchas cumpre o papel, mas a Toro não nasceu para carregar geladeira nem ser veículo de companhia telefônica, com todo respeito.
Sobram as automáticas, Freedom 1.8 flex (6 marchas) e Volcano (2.0 diesel e 9 marchas) sem falar na série especial Opening Edition, baseada na Freedom e desde já obrigatória para quem pensa na primeira opção.
A Volcano traz quase tudo que se vê no primo Renegade – sim, você enxerga o Jeepinho em todos os cantos, embora o design em geral tenha assinatura própria. Há teto solar, o mesmo conjunto mecânico, central multimídia, ar-condicionado de duas zonas, painel com tela LCD no centro, mas um acabamento levemente mais simples. Além disso, nada de freio de estacionamento elétrico, como no SUV, você vai usar a velha e manjada alavanca.
O motor turbodiesel 2.0 de 177 cv parece falar mais alto que no Renegade, mas não por andar mais e sim pelo ruído um pouco mais presente. Será que é uma forma de mostrar que é uma picape como uma S10 ou Hilux? A Fiat diz que não.
A direção elétrica direta e o escalonamento sempre preciso das nove marchas já começam a agradar desde a partida. A suspensão bem ajustada em quase nada lembra as desengonçadas picapes com chassi e carroceria separadas. A Toro tem boa visibilidade embora a área envidraçada seja um tanto estreita.
Pulamos para a Freemont 1.8 flex e, surpresa, a aparência geral é bem semelhante. Não há partida por botão, o comando da tração integral é substituído por uma entrada de 12V e a tela no painel de instrumentos está menor, mas o aspecto é o de um carro ainda bem equipado.
O acabamento também muda: saem alguns apliques no painel e os bancos de couro, por exemplo. Mas estamos falando de um carro que custa R$ 40 mil a menos – dá para levar um Uninho de brinde com esse dinheiro.
O motor E.torQ Evo é a novidade. Ele deu conta do recado nos trechos em que andamos. Tem mais potência (7 cv) e torque, agora beirando os 20 kgfm, mas ficou no ar a dúvida de ver a Toro flex carregada. A transmissão de 6 marchas Aisin não compromete a tocada, que é mais suave e menos barulhenta que a da Volcano.
4 lugares e meio
Resta saber do espaço, um dos diferenciais dessas novas picapes ‘compactas-médias’. Por fora, a Toro tem um porte parecido com algumas picape médias como a L200 (embora mais baixa) e é bem maior que a Oroch – que a Fiat nem quer que chamem de rival.
Já por dentro ela compartilha com a picape da Renault um espaço apenas razoável. Pois é, elas levam cinco pessoas, mas como um hatch médio não tão espaçoso. Claro que são melhores que as Stradas e Saveiros da vida, mas falta espaço transversal para levar cinco pessoas – no máximo 4 adultos e uma criança.
No porta malas, opa, caçamba, a situação é mais generosa. A Toro tem 820 litros de capacidade, o dobro de alguns SUVs, e leva uma tonelada sem pestanejar.
E a bendita tampa repartida, alguém certamente vai perguntar? Bem, é uma ideia que parece boa porque facilita o acesso ao compartimento, mas passa uma certa fragilidade. Como não tem onde se apoiar, a parte de cima tem um jogo grande se você forçar um pouco. Outro ponto é a perda da extensão da caçamba no caso de deixá-la aberta. Para compensar isso, a Fiat oferece um acessório que cria um ponto de apoio para quem precisa levar objetos mais longos.
De R$ 76.500 Picape compacta-média Renault Oroch estreia este ano 1.8 flex 16V 139 cv a 5.750 rpm (E) 19,3 kgfm a 3.750 rpm (E) Automática de 6 velocidades 4,915 m de comprimento, 1,84 m de largura, 1,68 m de altura e 2,99 m de entreeixos 1.619 kg 820 litros (1.000 kg)Fiat Toro Freedom 1.8 aut. 2017
Resumo
Preço
Mecânica
Motor
Dimensões
Medidas
Vou de flex
A Fiat diz que a Toro diesel vai responder pela maior parte das vendas assim como ocorre com o Renegade. Pode ser mesmo, mas é fato que ela tem muito mais rivais para fazer o cliente pensar. Já a Freedom flex, por R$ 76.500, serve como uma alternativa bacana para quem não quer pagar quase R$ 90 mil por um utilitário esportivo compacto, por exemplo. E não tem ninguém com quem brigar entre os modelos com caçamba. Seja lá qual for a escolha, a Fiat acertou ao menos em uma coisa: agora ela sabe fazer um carro premium.