Com motor diesel, Volvo XC90 vai incomodar ainda mais SUVs alemães
Utilitário esportivo de luxo é a maior prova do potencial da marca sueca
A Volvo Cars é uma marca que sempre esteve sob a guarda de alguém. Primeiro nas mãos do conglomerado Volvo, com atuação mais focada em caminhões e ônibus. Depois passou a ser parte do PAG, o grupo de marcas premium da Ford até ser vendida para a chinesa Geely. O que parecia ser um passo atrás tem se mostrado o contrário: nunca na sua história, a Volvo teve tanta liberdade para criar veículos do seu jeito e o resultado começa a ser sentido não só no mundo, mas no Brasil, onde a marca figura na 19ª posição nas vendas, à frente de rivais com fábrica no país.
“Os acionistas entenderam que a melhor coisa para a Volvo é deixá-la fazer o que sabe fazer”, explicou Leandro Teixeira, diretor de marketing da empresa no Brasil. Sem exageros, é fácil comprovar essa tese a bordo do XC90, segunda geração do SUV de luxo que foi lançada há um ano e hoje já vende quase tanto os líderes GLE e X5, das alemãs Mercedes-Benz e BMW.
Faltava, no entanto, uma versão com motor turbodiesel, que responde por metade das vendas desse segmento, o que a Volvo acaba de fazer. Com isso, o XC90 passa a ter quatro versões, duas com cada combustível e nível de acabamento, a Momentum e a mais equipada Inscription.
Com esse portfólio, a expectativa é vender cerca de 700 unidades no ano que vem (este ano foram 399 até novembro), número que significaria hoje a liderança do mercado. Nada mal para uma marca que possui uma rede menor que a dos concorrentes (28) e que investe num estilo mais clássico que eles. E talvez esteja aí a magia do XC90.
Dentro da Ópera de Gotemburgo
A nova geração do XC90, a primeira projetada 100% pela Volvo, muda muitos conceitos antigos que existiam na marca. Em vez de enormes botões (necessários nos tempos em que os escandinavos eram obrigados a dirigir de luvas) um painel minimalista e organizado. No lugar da pesada direção hidráulica do XC60 um volante leve e direto com atuação elétrica. Não esqueço dos dias que passei com a primeira geração do XC90 há mais de uma década. Era um carro imponente, porém, pesado de dirigir, daqueles que se movimentam mais do que você deseja em frenagens e curvas.
O novo XC90 não tem nada do seu antecessor. É um veículo ágil e preciso na direção. Uma das razões é uma sacada simples da Volvo para eliminar o turbo lag do motor diesel, batizado de PowerPulse. Um cilindro de ar comprimido está sempre de prontidão para encher a turbina de baixa rotação do motor e assim mantê-la em pleno funcionamento. O resultado é um carro com respostas imediatas do seu propulsor 2.0 de 238 cv e 40,8 kgfm de torque.
A suspensão independente (com sistema pneumático na versão Inscription) é um primor no ajuste, mantendo o imenso veículo de mais de duas toneladas sempre sob controle além de um rodar extremamente silencioso.
Por falar em silêncio, o interior do XC90, mesmo na versão diesel, é de um bom gosto que há muito tempo não via. Sem excesso de cromados, o acabamento utiliza uma mistura de couro com partes metálicas (reais) e agora detalhes em madeira em algumas versões (novamente, não se trata de plástico com textura que imita madeira).
A versão Inscription conta com um sistema de som da marca inglesa Bowers & Wilkins que conta com 19 alto-falantes. A qualidade é tão elevada que os engenheiros se deram ao trabalho de criar um ajuste que imita a sensação da Ópera de Gotemburgo (onde a orquestra sinfônica da cidade se apresenta). O problema é que tanta pureza pode nos fazer esquecer dos limites de velocidade...
Tablet da Volvo
Pela novidade do projeto era de se esperar que o XC90 adotasse tecnologias em alta hoje como o painel de instrumentos todo digital (ele tem), sistema Start-Stop (também) e assistente de estacionamento (que para o veículo em vagas paralelas e perpendiculares) e visor ao nível dos olhos, mas é a central multimídia que me chamou a atenção.
Com disposição vertical e nove polegadas, a Sensus Navigation Pro parece um tablet de uma parceria com uma gigante como Apple ou Samsung mas foi desenvolvida pela própria Volvo. Ela concentra a maior parte das funções a bordo e é extremamente simples e fácil de ser usada como para ajustar a temperatura do ar-condicionado individual – algo feito com apenas dois toques na tela.
Claro que o XC90 não é uma obra perfeita como, aliás, nenhum carro é. O botão de partida, por exemplo, é pouco intuitivo (é preciso girar um botão para a direita para ligar e para esquerda para desligar). Falta também os paddle-shifts para uma condução mais esportiva e direta do câmbio de oito marchas.
Já o sistema de condução semi-autônoma, batizado de Pilot Assist, chegou à segunda geração devendo um pouco. Segundo a Volvo, é o único SUV de luxo com esse recurso, que mantém o XC90 numa distância constante do veículo que segue à frente e também faz curvas seguindo as marcações das pistas, tudo isso por meio de um conjunto de câmeras e sensores instalados em várias partes dele.
Quanto ao controle de cruzeiro adaptativo, só elogios: ele tem uma atuação suave mesmo quando carros entram na sua frente de forma inesperada. Já o trabalho do volante em modo automático não passa tanta segurança que cumprirá sua tarefa. É claro que a Volvo certamente argumentará que o XC90 não pode ter um sistema autônomo, é preciso que o motorista esteja no controle do volante, mas alguns concorrentes fazem isso sem problemas.
Em compensação, a tradição de segurança da marca é vista em vários aspectos incluindo o City Safety, um recurso que freia o veículo totalmente em velocidades de até 50 km/h ou no sensor de colisão traseira que aciona o pisca-alerta ao perceber um choque iminente, além de tensionar o cinto de segurança dos ocupantes.
Preço atraente
Em tempos em que o status é tão valorizado, sobretudo no Brasil, onde muita gente compra um automóvel com o intuito de mostrar isso ao vizinho, a Volvo segue uma direção alternativa. A marca tem ciência de que existe um público bem-sucedido que busca um bom produto mas não quer chamar a atenção por isso.
É esse perfil que tem sido atraído para a marca, que vem crescendo no país nos últimos anos. Nesse contexto, o XC90 é uma opção moderna, confortável e de extremo bom gosto para quem precisa de um SUV familiar, capaz de levar sete pessoas a bordo (a última fileira leva dois adultos com até 1,7 m com bom espaço), mas sem parar o trânsito por onde passa. O estilo externo, discreto, agrada pelos belos faróis com luzes diurnas em formato de martelo, e pelas lanternas que acompanham o perfil da carroceria.
Com a versão diesel, o XC90 pode virar um carro até mais comum nas ruas de algumas regiões do país até porque a Volvo lançou o SUV com preço promocional – R$ 369.950 na versão Momentum e R$ 419.950 na versão Inscription (que traz como diferencial teto solar panorâmico, rodas aro 20 contra aro 19, sistema de som Bowers & Wilkins e suspensão pneumática).
Na prática, a diferença para o modelo a gasolina está entre R$ 16 mil e R$ 23 mil quando normalmente fica acima de R$ 40 mil. Ou seja, não deve demorar para que o XC90 diesel suma das lojas.
Ficha técnica
Volvo XC90 2017 D5 Inscription 2.0 16V diesel automático integral 4p | |
---|---|
Preço | R$ 419.950 (05/2017) |
Categoria | SUV grande |
Vendas acumuladas neste ano | 885 unidades |
Motor | 4 cilindros, 1969 cm³ |
Potência | 238 cv a 4000 rpm (diesel) |
Torque | 48,9 kgfm a 1750 rpm |
Dimensões | Comprimento 4,95 m, largura 2,008 m, altura 1,776 m, entreeixos 2,984 m |
Peso em ordem de marcha | 2171 kg |
Tanque de combustível | 71 litros |
Porta-malas | 451 litros |