Com Fiat e Chrysler, Sergio Marchionne fez o que parecia impossível
Executivo italiano que comandou a FCA faleceu nesta quarta-feira aos 66 anos. E vai fazer muita falta à indústria automobilística mundial
Aqui no Autoo é raro abordarmos os bastidores da indústria ou comentar algo sobre executivos afinal nossa linha editorial é focada na análise de veículos e na recomendação de compra. Mas Sergio Marchionne, ex-CEO da FCA, a holding que uniu a Fiat e a Chrysler, é daqueles profissionais que precisam ser explicados para o nosso público.
O executivo de origem italiana, mas radicado há tempos no Canadá, faleceu aos 66 anos nesta quarta-feira (25), vítima de uma embolia cerebral após uma cirurgia para a retirada de um tumor no ombro em junho. Diante da piora no seu quadro de saúde, no sábado 21 ele se afastou da função de CEO do grupo, dando lugar ao britânico Michael Manley. Uma infelicidade que vitimou um dos mais brilhantes executivos do mercado cedo demais.
Embora já preparasse sua saída de cena no ano que vem e trabalhasse para encontrar um sucessor, Marchionne certamente não se desligaria do grupo FCA tão cedo e tão jovem. Mas o destino quis que ele partisse antes da hora, uma pena.
Para quem não o conheceu, vale dizer que ele está naquela curta lista de presidentes que ultrapassam os limites do setor para serem conhecidos em outros meios. Gente como Dieter Zetsche, o bigodão careca que é CEO da Daimler e o qual vemos com frequência nos boxes da equipe Mercedes de Fórmula 1 ou o brasileiro (de nascimento mas espírito global) Carlos Ghosn, chefão máximo da Renault e da Nissan.
Conhecido pelo estilo informal de se vestir (quase sempre usando camisa xadrez com um suéter escuro) e por dormir poucas horas, Marchionne começou a se destacar em 2003 quando passou a integrar o conselho de diretores da Fiat na Itália e logo no ano seguinte assumiu como CEO. Na época, a empresa estava em plena decadência, sem produtos atraentes e sendo objeto de rumores sobre sua venda.
Mas já em 2005 ele conseguiu fazer a empresa lucrar numa reviravolta inesperada. O executivo decidiu investir em novos produtos como o Grande Punto (Punto no Brasil) e no renascimento do Fiat Cinquecento (500), ícone da marca nos anos 50.
Em 2008, Marchionne realizou sua mais polêmica previsão. Afirmou que no futuro sobrariam apenas cinco grandes fabricantes de veículos no mundo e que um deles seria a Fiat. Uma década depois, a profecia ainda está longe de se confirmar, porém, em um ponto ele acertou: a Fiat, unida à Chrysler, tornou-se novamente um dos principais grupos automotivos do mundo.
Quem comprou quem?
Foi em 2009, no entanto, que o ítalo-canadense deu sua maior cartada, a união com a Chrysler. O mercado norte-americano sofria a maior crise dos últimos anos e as três grandes montadoras de Detroit pediam socorro ao governo Obama para não fecharem.
Foi a deixa para que a Fiat conseguisse voltar aos Estados Unidos em grande estilo ao levar 20% da montadora americana, então nas mãos de um grupo de investidores que não parecia entender o potencial que tinha nas mãos.
A expectativa, no entanto, era a pior possível diante do fracasso da DaimlerChrysler, união criada pelos alemães em 1998 e desfeita em 2007. A cultura da Daimler tentou engolir sua “parceira” americana e o resultado foram anos de baixas vendas e produtos ruins além de desconfianças de ambos os lados.
E o que dizer de uma empresa italiana tentando mandar numa tradicional fabricante dos EUA? De forma brilhante, Marchionne soube conservar a identidade das marcas associadas à Chrysler e mais que isso, investir para que elas voltassem a competir pelo mercado.
A maior jogada, no entanto, foi elevar a Jeep a uma marca global. A tradicional fabricante de utilitários esportivos, então concentrada principalmente no mercado americano, ganhou o mundo, inclusive o Brasil com os modelos Renegade e Compass.
Em 2014, o CEO concluiu seu projeto ao criar a FCA, holding que uniu a Fiat e a Chrysler. Se ainda há muito o que fazer para recuperar sobretudo a presença da Fiat em vários países, incluindo o Brasil, é fato que Marchionne promoveu um milagre ao tirar duas fabricantes centenárias da inevitável falência e devolvê-las ao jogo. Certamente ele vai fazer falta.
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