Carros ecológicos chegam ao país timidamente
Limitados pelo preço alto, híbridos e elétricos apareceram no Salão do Automóvel em busca de reconhecimento
No Salão de Paris, eles dominaram alguns estandes, como o da Renault, e o assunto em questão já não era se viriam, mas quando chegariam. Já no Salão do Automóvel, eles apareceram, mas existem mais incertezas que informações concretas sobre seu futuro. Claro, estamos falando dos modelos ecológicos, que usam propulsão híbrida ou puramente elétrica.
Além de alguns protótipos, o salão paulistano mostra sete modelos de série, que poderiam começar a ser vendidos em breve caso houvesse uma legislação que estimulasse isso. Como isso não ocorreu ainda, apenas dois deles já podem ser comprados, mas seus preços os tornam meros enfeites na garagem. Saiba quem são eles, suas vantagens e desvantagens e, em alguns casos, seus preços.
O sedã alemão começará a ser vendido no Brasil entre março e abril de 2011 e seu preço deve beirar os R$ 600.000. Baseado no Série 7, o maior e mais sofisticado carro da marca, o modelo utiliza uma tecnologia semelhante ao do Mercedes-Benz S400 Hybrid. Um pequeno motor elétrico de 20 cv está instalado entre o motor a gasolina e o diferencial. Sua função é diminuir a necessidade do V8 em situações como saídas da imobilidade. Parte da energia para alimentá-lo vem das frenagens com o sistema KERS.
O Fusion, que começa a ser vendido em novembro, também combina um motor a gasolina (nesse caso um 2.5 litros que usa o ciclo Atkinson e não Otto) a um elétrico. Mas no sedã da Ford a tarefa do motor elétrico é maior. A ré e a primeira marcha, por exemplo, ficam a cargo exclusivamente dele. Em outras situações, seu funcionamento é combinado, conforme a necessidade de potência e torque. O problema é o preço, muito mais alto que outras versões normais do Fusion: R$ 133.900. Mesmo com um consumo de combustível baixíssimo, de apenas 17,4 km/l, o dono do sedã não recuperará o investimento ao longo dos anos.
Os modelos da Honda presentes no salão usam o sistema IMA, parecido com o utilizado por BMW e Ford. Mais uma vez um motor elétrico está posicionado entre o motor normal (1.3 no Insight e 1.5 no CR-Z) e a transmissão. O papel dele é ajudar o motor a gasolina em várias situações, seja quando o carro está parado, no sistema Start-Stop, seja em acelerações. A alimentação das baterias de níquel (e não lítio, como nos mais modernos) é feita com a energia regenerada dos freios. A Honda diz que venderia os dois no Brasil caso houvesse algum incentivo fiscal. Hoje, tanto o maior Insight quanto o esportivo CR-Z custam cerca de US$ 19 mil, ou cerca de R$ 33.000, mas aqui teriam preço muito mais alto, com certeza.
O S400 é o primeiro híbrido a ser comercializado no Brasil, mas, como o BMW, usa uma tecnologia simples e que não chega a alterar tanto o funcionamento do carro. Ele combina o motor V6 3.5 litros com um elétrico de 20 cv, mas que é usado para ajudar o motor a gasolina em acelerações – na cidade, o V6 se vira sozinho, auxiliado pelo sistema Start-Stop. Para realimentar as baterias, um sistema KERS e o próprio motor V6. A sacada da Mercedes, no entanto, é oferecê-lo por um preço mais em conta que o Classe S normal – cerca de R$ 450 mil.
O pequeno i Miev é um dos projetos mais antigos de elétrico no mundo (2006), um sinal que a Mitsubishi há muito já previa a mudança no setor, antes da crise, inclusive. E o modelo não decepciona. Sua concepção é fabulosa: a carroceria tem entreeixos grande para acomodar no assoalho as bateria de lítio, o motor elétrico é tão pequeno que ele e os inversores que transformam a energia de contínua para alternada ficam localizados na parte traseira sem comprometer o espaço. A autonomia é de 160 km e o i MiEV ainda conta com freios regenerativos para carregar as baterias. Nem mesmo uma enchente pode causar dor de cabeça – imagine você vendo seu carro alagar e as baterias provocando choques. Isso não acontece porque a Mitsubishi imaginou um sistema que isola a corrente nesses casos. A marca mostrou o i MiEV para o presidente Lula antes do salão e pretende fabricá-lo aqui em 2013. Mas sem incentivos seu preço será proibitivo.
O utilitário esportivo, caso seja confirmado, pode ser o primeiro do tipo no país. Conhecidos pelo alto consumo de combustível, os SUV perderam o brilho durante a crise de 2008, mas aos poucos retomam seu público. As versões híbridas podem justamente modificar a imagem de anti-ecológicos. No caso do Cayenne, a solução foi oferecer desempenho de V8 com consumo inferior ao do V6. Aliás, o motor é o mesmo V7, porém conta com o apoio de um motor elétrico com 47 cv que permite ao jipão rodar 12,2 km com um litro de combustível, marca que muitos populares brasileiros sofrem para atingir. A Porsche ainda estuda a viabilidade de vendê-lo a partir de 2011, mas o preço deverá beirar R$ 400.000.
Diferentemente do Prius hoje vendido nos Estados Unidos, Japão e Europa e carro híbrido mais famoso do mundo, a versão Plug-in utiliza as baterias de íon-lítio em vez das de níquel para armazenar eletricidade. Isso significa maior autonomia, porém, mais peso. A outra grande vantagem está no prório nome: o Prius pode ser carregado numa tomada comum, assim como o i MiEV, da Mitsubishi. A autonomia apenas com o motor elétrico funcionando é de 20 km, mas basta acionar o motor 1.8 a gasolina para ir mais longe, porém, emitindo poluentes. A Toyota já chegou a pensar em vender o Prius normal aqui (a Argentina, por exemplo, já vende o modelo desde o começo do ano), mas nossa gasolina que usa etanol não conseguiu ser adaptada ao motor do veículo.