Avaliação rápida: Nissan Leaf 2020
Ainda é caro, mas o modelo 100% elétrico da Nissan traz uma proposta muito interessante
O Salão de São Paulo 2018 foi uma boa prévia do que podemos esperar a partir de agora para o mercado brasileiro. Mesmo com uma infra-estrutura que ainda precisa ser amplamente desenvolvida, o país não pode ficar de fora do que será o futuro para o mercado automotivo global, que caminha a passos largos para a eletrificação da frota.
Na mostra paulista, Renault, Chevrolet e Nissan firmaram-se como as principais marcas de volume que irão apostar no segmento por aqui. A Renault já comercializa no Brasil o Zoe, enquanto a Chevrolet dará o pontapé inicial para os emplacamentos do Bolt por aqui em outubro. Em pré-venda desde o Salão, neste mês foi a vez do Nissan Leaf chegar ao mercado, inicialmente em sete concessionárias da marca localizadas na cidades de São Paulo (com dois pontos de venda), Rio de Janeiro, Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre e Brasília.
Olhando um pouco para a história do Leaf, a primeira geração do modelo estreou em 2010 criando um marco para a indústria automotiva, uma vez que o Leaf foi o primeiro automóvel com propulsão completamente elétrica a ser produzido em larga escala. A segunda geração, que chega agora ao Brasil, foi revelada mundialmente em 2017. Outro feito relevante conseguido pelo Leaf foi que, em março deste ano, o modelo somou 400 mil unidades emplacadas ao longo de sua história, consolidando-o como o carro elétrico mais vendido ao redor do mundo. De acordo com uma estimativa da Nissan, de 2010 até hoje a frota do Leaf em circulação no planeta economizou 3,8 milhões de barris de petróleo por ano, sem sombra de dúvida um grande alívio para o meio-ambiente.
Em parte pelo custo mais elevado que um carro elétrico tem atualmente devido ao conjunto de baterias e, somando-se a isso, os custos de importação e tributos brasileiros, é fato que o Leaf chega custando caro ao Brasil. O valor de R$ 195.000 engloba o serviço de instalação do aparelho de recarga do Leaf na residência da proprietário do veículo, bem como os demais cabos e adaptadores necessários para “abastecer” o modelo.
Em uma interessante conta da Nissan tomando como base seus modelos, o Leaf apresentou um custo com “combustível” bem inferior até mesmo ao de um March 1.0. Se considerado o uso dos veículos até 60.000 km, o dono de um March 1.0 rodando com gasolina terá gastado, em média, R$ 18.558, enquanto o dono de um Leaf teria consumido exatos R$ 6.320 de energia elétrica. Portanto, estamos falando de um custo três vezes menor a favor do Leaf. Na comparação com um Kicks 1.6, também abastecido com gasolina, o gasto sobe para R$ 21.000 com combustível, ou três vezes e meia acima do que o Leaf.
Já em termos de manutenção, as únicas trocas de componentes exigidas pela Nissan para o Leaf residem no filtro do ar-condicionado aos 20.000 km e a troca do fluido de freio aos 40.000 km. Como seu conjunto mecânico não tem nenhum outro fluido que peça atenção (óleo, líquido de arrefecimento, etc.), um carro elétrico como o Leaf tem uma manutenção bastante simplificada. A Nissan pede inspeções a cada 10.000 km para o Leaf, nas quais são feitas algumas avaliações do conjunto de suspensão, freios, além do estado geral do carro. Novamente traçando um paralelo com March 1.0 e Kicks 1.6, a dupla gasta com revisões até 60.000 km exatos R$ 2.624 e R$ 2.944, respectivamente, enquanto o pacote para o Leaf ficará em R$ 2.404.
Portanto, ao somarmos os custos com combustível e manutenção, temos uma despesa de R$ 0,40/km para o Kicks 1.6, R$ 0,35/km para o March 1.0 e de apenas R$ 0,14/km para o Leaf. Um argumento muito forte é que, ao longo dos 60.000 km, o Leaf não terá emitido nenhum poluente para a atmosfera, enquanto o March terá expelido por seu escapamento 9,6 toneladas de CO2 e o Kicks outras 11,2 toneladas de CO2. O Leaf terá três anos de garantia integral, sendo que a cobertura para o conjunto de baterias segue até o carro completar oito anos ou 160 mil km. A Nissan também explica que as principais seguradoras do mercado vão atender o Leaf e o custo, declara, não será elevado.
Se tudo isso lhe convenceu a adquirir um Leaf, saiba que você vai encontrar no modelo um carro muito interessante para o dia a dia. Com sua bateria de 40 kWh, o Leaf consegue uma autonomia para cerca de 240 km, número, convenhamos, bastante aceitável e próximo ao que um carro flex é capaz de percorrer com um tanque de etanol. Considerando uma pessoa que roda por volta de 45 km em sua jornada diária (casa-trabalho-casa), estimativas da Nissan apontam que é possível realizar o trajeto por cerca de cinco dias seguidos sem recarregar o Leaf, portanto uma semana útil de trabalho sem se preocupar em conectar o Leaf na tomada. Com o carregador de parede Wall Box, que trabalha em um padrão de 220-240V, a recarga do Leaf pode ser feita de 6 a 8 horas. Em postos de carregamento públicos, com capacidade de operar em 480V, a recarga completa leva cerca de uma hora.
Com 149 cv de potência e um generoso torque máximo de 32,6 kgfm (90% disso é entregue em 0,1 segundo), o Leaf é um carro que não deve em nada em termos de desempenho. Sua aceleração de 0 a 100 km/h é feita em ótimos 7,9 segundos, enquanto a velocidade máxima é limitada em 144 km/h, suficiente para atender as principais rodovias do país.
Com um comportamento bem neutro e confortável ao volante, o que chama muito a atenção a bordo de um carro elétrico como o Leaf é o extremo silêncio na cabine, algo que não estamos acostumados em nossos carros a combustão convencionais. Outra solução peculiar ao Leaf é o sistema chamado e-Pedal. Atuando em conjunto com a frenagem regenerativa e o sistema hidráulico dos freios, quando o e-Pedal está ativado você consegue dirigir o Leaf controlando o modelo apenas com o pedal do acelerador. Quando ele é aliviado, o carro realiza uma frenagem com uma taxa de desaceleração de 0,2 g, ajudando também a recuperar energia para as baterias.
A Nissan explica que, com o e-Pedal acionado, o uso do freio convencional (que segue presente no modelo) é reduzido em cerca de 80%, o que ajuda também a preservar as partilhas e discos de freio, economizando ainda mais com manutenção. Em poucos quilômetros você acaba se acostumando com o sistema, mas ele é mais indicado para situações de tráfego intenso, uma vez que em vias que permitem velocidades mais altas, o Leaf trafega de uma forma mais “solta” quando conduzido com o e-Pedal desativado. O modelo ainda conta com o modo Eco, que limita a potência do motor para que o consumo de energia seja menor.
Mesmo com sua plataforma concebida integralmente para um carro elétrico, só não nos agradou nesse contato inicial com o Leaf a posição dos passageiros no banco traseiro. O assoalho por ali é elevado demais, uma vez que as baterias do Leaf estão logo abaixo, fazendo com que pessoas mais altas fiquem com as pernas flexionadas demais, uma posição cansativa para deslocamentos longos. O túnel central traseiro elevado compromete o espaço para um quinto ocupante no carro. O porta-malas de 435 litros, por sua vez, é muito bom e permite acomodar as bagagens de uma família com tranquilidade.
Se em termos de desempenho, custo de propriedade e acabamento o Leaf se destaca, o mesmo podemos dizer de sua lista de equipamentos. Até mesmo para justificar o preço elevado, o elétrico chega ao Brasil em configuração única que contará com 6 airbags, controles de tração e estabilidade, revestimento interno de couro, bancos dianteiros com aquecimento e uma central multimídia completa, com espelhamento para smartphones e câmeras 360º. Ainda completam o pacote os assistente de condução avançados, como frenagem autônoma de emergência, alerta de pontos cegos nos retrovisores, piloto automático adaptativo, alerta e prevenção de mudança de faixa, alerta de tráfego cruzado traseiro, entre outros.
Com a chegada de mais um carro 100% elétrico ao mercado – vale a pena destacar que a JAC também atua no segmento, bem como a CAOA Chery estuda iniciativas na categoria – esse tipo de automóvel começa a ganhar espaço no país e eles, aos poucos tornam-se uma realidade mais próxima dos brasileiros. Agora resta a infra-estrutura do país também acompanhar a nova tendência e, se possível com a concorrência e novas tecnologias para as baterias, os preços desses carros também diminuírem na mesma medida. Predicados, como é possível notar no texto, não faltam aos carros elétricos.