Avaliação: Mirando picapes diesel do agro, BYD Shark híbrida esbanja tecnologia
Maior e mais cara que rivais, picape chinesa tem desempenho de esportivo e comportamento de SUV
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Atual 10ª colocada no ranking geral de 2024, com quase 3% de participação nos emplacamentos, a BYD se prepara para entrar em um dos mais disputados e tradicionais segmentos do mercado brasileiro, o das picapes médias, as favoritas do agronegócio.
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Para tentar fisgar um cliente que não costuma dispensar o motor a diesel, a fabricante chinesa manteve sua aposta na eletrificação com a Shark. A primeira picape híbrida plug-in (PHEV) da BYD é um produto global que tem na tecnologia seu principal argumento de venda.
A Shark chega com preço partindo de R$ 379,8 mil, um pouco acima dos valores pedidos por rivais como Chevrolet S10, Fiat Titano, Ford Ranger, Mitsubishi L200, Nissan Frontier, Toyota Hilux, Volkswagen Amarok e a recém lançada JAC Hunter, que variam entre R$ 290 e R$ 335 mil em suas versões topo. A BYD afirma que seu modelo custa mais porque entrega mais, principalmente em tecnologia.
O conjunto motriz híbrido da Shark é composto pelo motor a gasolina 1.5 turbo de ciclo Miller. Com 183 cv e 26,5 kgfm de torque, trabalha com dois motores elétricos, um no eixo dianteiro (de 231 cv e 31,6 kgfm) e outro traseiro (201 cv e 34,7 kgfm). Com uma potência combinada de 437 cv e um torque máximo de 65 kgfm, o conjunto híbrido permite aceleração de 0 a 100 km/h em 5,7 segundos. A velocidade máxima é de 160 km/h.
Como comparativo, a Ranger com motor turbodiesel 3.0 V6 fornece 250 cv e 61,3 kgfm. Na Amarok 3.0 V6, são 258 cv e 59,1 kgfm. A Hilux, que usa um turbodiesel 2.8 de quatro cilindros, tem 204 cv e 50,9 kgfm.
Picape anda até 100 km na eletricidade
Imagem: Divulgação
A Shark pode andar até 100 quilômetros em modo 100% elétrico. O conjunto motriz também pode operar de híbrido em série (motor a combustão como gerador para as baterias e motores elétricos dando propulsão) ou híbrido em paralelo (motor a combustão e elétricos dando propulsão). De acordo com os testes feitos pelo Inmetro no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), a Shark possui uma autonomia na gasolina equivalente a até 24,6km/le na cidade e 19,9 km/le na estrada.
A tração nas quatro rodas é feita pelos motores elétricos e tem três modos de terreno - Areia, Lama e Neve - e condução - Normal, Eco e Sport. A BYD Shark possui um sistema de suspensão independente Duplo A na dianteira e na traseira, um ângulo de ataque de 30° e ângulo de saída de 19.2°.
A carroceria da Shark utiliza aço de alta resistência em 54% de sua composição e a plataforma DMO (Dual Mode Off Road), que alia um chassis e a tecnologia híbrida às funções off-road. O chassi da picape chinesa integra a bateria blade através da tecnologia CTC (cell to chassis). Assim a bateria funciona tanto como unidade de energia quanto parte da estrutura do veículo.
O porte da BYD Shark é um pouco maior que o das principais rivais: 5,46 metros de comprimento (15 cm a mais que a média das concorrentes), 1,96 m de largura (11 cm a mais) e 1,89 m de altura (8 cm a mais). A distância entre-eixos é de 3,26 m, com 2.710 kg de peso. Já a capacidade máxima de reboque de 2.500 kg, com carga útil de 790 kg (mais próximo dos 720 kg da Fiat Strada do que dos 1.000 kg das rivais médias) e volume de carga de 1.450 litros.
Os traços retilíneos dão à picape chinesa um visual robusto que lembra a Amarok. Os paralamas trazem molduras plásticas de proteção, enquanto faróis e lanternas de LED são interligados por barras iluminadas. A dianteira tem logo da BYD em grande destaque e uma grade pequena, ao contrário do que costuma ser encontrado nas rivais
Muita tecnologia e ótimo acabamento dentro da cabine
Imagem: Divulgação
No interior, há duas telas. A dos instrumentos tem 10,25 polegadas, enquanto que a central multimídia é giratória e tem 12 polegadas. Há ainda head up display, comandos por voz, conexão sem fio para Apple Car Play e Android Auto, carregador de celular por indução. O volante tem apenas dois raios e um curioso recurso para escolher os modos de condução e tração (veja mais no vídeo).
O acabamento segue o padrão dos outros BYD. Tem materiais bons e agradáveis ao toque por todos os cantos. Molduras dos difusores de ar, e do porta-copos, bem como as costuras do volante, painel e bancos são em laranja.
Os bancos revestidos de couro sintético são confortáveis e têm bom apoio. Os dianteiros possuem aquecimento e ventilação. Os três passageiros do banco traseiro viajam com conforto e o espaço para as pernas é excelente. O assoalho é baixo, algo raro em picapes de chassi, aumentando o conforto em viagens longas. A carroceria é bem isolada, com pouquíssimo ruído de rodagem invadindo a cabine.
Versão única vem recheada de equipamentos
Imagem: Divulgação
Vendida em versão única, a Shark tem airbags frontais, laterais e de cortina, ar-condicionado automático de duas zonas, revestimento interno em couro sintético, além do Sistema Avançado de Assistência ao Motorista (ADAS) com controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência, assistente ativo de faixa, reconhecimento de placas de trânsito, sensor de ponto cego e, farol alto automático e alerta para abertura de portas.
Na caçamba, há tomadas de energia do VTOL (Vehicle To Load), sistema que permite usar a bateria do carro para alimentar equipamentos eletrônicos. Além disso, o veículo incorpora uma câmera panorâmica ultra-wide-angle de 540 graus, permitindo ao condutor observar os arredores e a parte inferior do veículo, facilitando a seleção da melhor rota durante a condução fora de estrada.
A bateria blade de 29.6 kWh - cuja recarga de 30% a 80% pode ser feita em apenas 20 minutos usando um carregador rápido - permite autonomia combinada de 840 km e 100 km de alcance no modo totalmente elétrico.
A BYD oferece seis anos de garantia para o carro e oito para a bateria, sem limite de quilometragem. São apenas três cores disponíveis: branco, preto e azul. Há opção de blindagem de fábrica, em parceria com a Carbon Blindagens, por R$ 78,2 mil.
Rodando, Shark lembra mais um SUV do que uma picape
Imagem: Divulgação
No pequeno percurso disponibilizado pela BYD, a Shark pareceu mais um SUV de carroceria monobloco do que uma picape de chassi. Tem bom comportamento dinâmico e não causa sustos nas curvas em velocidades altas, desvios de trajetória e frenagens.
É um carro confortável, muito silencioso ao rodar e rápido, muito rápido. Durante a breve avaliação, o motor a combustão trabalhou o tempo todo e a picape não chegou a andar em modo 100% elétrico. No fora-de-estrada, mesmo com pneus mais voltados para uso em asfalto, passou com tranquilidade nos obstáculos com solo encharcado.
A BYD Shark é confortável, econômica, espaçosa, bem equipada e bastante tecnológica. Com comportamento de SUV e potência de esportivo, parece feita sob medida para famílias urbanas que gostam de viagens e lazer e precisam de bastante espaço para bagagens.
Entretanto, a marca chinesa está apostando forte no público do agronegócio, que sempre optou pela resistência e robustez das picapes a diesel para usar no trabalho e no lazer. Resta saber se esse comprador, normalmente tradicional e conservador, vai aceitar pagar mais para experimentar algo totalmente novo e que ele não sabe como vai se comportar.
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