Anfavea: ''futuro eletrificado'' no Brasil demanda atenção do Estado

Estudo feito em parceria com consultoria BCG alerta que país precisa seguir outros países em esforços para reduzir emissões de CO2
Nissan Leaf 2020

Nissan Leaf 2020 | Imagem: Divulgação

A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) apresentou três cenários para o futuro da indústria automotiva no Brasil. Os resultados foram exibidos no seminário “O Caminho da Descarbonização do Setor Automotivo".

Durante a apresentação, a entidade divulgou os resultados de um estudo feito em parceria com a Boston Consulting Group (BCG) a respeito do futuro do automóvel no Brasil.

A partir dele, as partes chegaram a três cenários possíveis. Listamos todos a seguir:

Inercial: a transformação seria lenta pela ausência de metas estabelecidas e pela falta de mobilização dos setores envolvidos no transporte e na geração de energia, bem como a ausência de uma política de Estado que incentive a eletrificação.

Convergência Global: o mais acelerado dos cenários por acompanhar os movimentos já em curso nos países mais desenvolvidos.

Protagonismo de Biocombustíveis: trata-se de um caminho que privilegiaria o desenvolvimento e investimento em biocombustíveis, porém com grau de eletrificação semelhante ao do cenário "Inercial".

Investimentos para a era da eletrificação

A entidade ressaltou a necessidade de o Brasil acompanhar os esforços para reduzir as emissões de CO2, como vários países vêm fazendo nos últimos anos.

Mesmo estando um degrau abaixo neste quesito, projeções feitas pela associação apontam que os veículos leves eletrificados podem responder por 12% a 22% do mix de vendas no Brasil em 2030. Este volume poderia subir para uma faixa de 32% a 62% em 2035.

Seguindo estas projeções, a indústria brasileira venderia 432 mil veículos leves eletrificados por ano em 2030, subindo para 1,3 milhão de unidades ao ano em 2035.

O problema é que parte deste volume não poderá ser importado, sob o risco de gerar sérios prejuízos à balança comercial brasileira e aumento da ociosidade da indústria local.

Esses motivos fazem com que a Anfavea sugira um novo ciclo de investimentos por parte da indústria local, como forma de se manter competitiva e garantir 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos gerados pela cadeia automotiva. Este número, inclusive, poderia até ser ampliado de acordo com o crescimento do mercado.

A expectativa é que, mesmo no cenário inercial, a eletrificação abra espaço para investimentos de grande magnitude em toda a cadeia, desde pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias até o treinamento da rede de concessionários.

Segundo a Anfavea, esta é a única maneira para que o Brasil “se consolide como um polo exportador dessas tecnologias para os países vizinhos e até de outros continentes”.

Seguindo este raciocínio, Anfavea e BCG sugerem que o movimento abriria um leque de novas oportunidades de investimentos no país. Fornecedores de peças como semicondutores e baterias poderiam se instalar no Brasil, que já possui matéria-prima em abundância para essas novas tecnologias.

Sem incentivos, nada feito

Durante a apresentação dos estudos, a Anfavea fez questão de frisar que o governo precisa seguir o exemplo de outros países e estimular o consumo de carros ‘verdes’ com medidas como menor tributação ou isenções em recarga, pedágio e rodízio, apenas para citar alguns exemplos.

Na visão da associação, apenas assim é que clientes particulares e corporativos terão acesso às novas tecnologias, atualmente restritas aos modelos de luxo. 

Outro impeditivo para o aumento na frota de carros eletrificados está na infraestrutura de pontos de recarga. De acordo com o estudo, no cenário de Convergência Global, seria necessária a instalação de ao menos 150 mil carregadores para atender os veículos eletrificados. Isso implicaria em um investimento de aproximadamente R$ 14 bilhões.

Além disso, a Anfavea classifica como “imprescindível” um pesado investimento em geração/distribuição de energia de fontes limpas para suprir a frota de elétricos, que criará uma demanda adicional de 7.252 Gwh - ou 1,5% de tudo o que é gerado atualmente.

Motor a combustão ainda está longe do fim

Embora projete um futuro focado na eletrificação, o estudo alerta que a “renovação natural da frota será muito lenta”. 

Pela estimativa, os motores a combustão ainda vão dominar a frota circulante em 2035. A frota de leves ainda terá quase 80% de motores flex (movidos a etanol ou gasolina), enquanto praticamente 90% dos caminhões e ônibus nas ruas ainda rodarão com diesel.

Essa projeção reitera a necessidade de realizar investimentos para tornar os motores bicombustíveis menos poluentes.

Em outros setores, a demanda por etanol e álcool anidro (presente em 27% na gasolina) exigirá altos investimentos da indústria sucroalcooleira, estimados em torno de R$ 50 bilhões em 15 anos.

Raciocínio semelhante vale para os produtores de diesel e biodiesel. Por fim, a Anfavea recomenda investimentos significativos e mandatórios na produção de HVO (diesel de origem vegetal) para a frota circulante.

O estudo feito em parceria com o BCG aponta que o Brasil tem condições de promover um novo ciclo de investimentos nos próximos 15 anos superior a R$ 150 bilhões. Isso, porém, desde que o Estado adote uma “política industrial adequada e bem planejada”.

"Outros países já definiram suas metas de descarbonização, bem como os caminhos para se chegar a elas. O Brasil, em seu papel de um dos principais mercados para o setor de transporte no mundo, não pode mais perder tempo", afirmou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

"Apenas com essas definições de metas é que os investimentos corretos poderão ser feitos, colocando o Brasil em um caminho global que não tem mais volta, que é o da redução das emissões dos gases de efeito estufa. Temos essa obrigação para com as futuras gerações", concluiu Moraes.

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Redação

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