Alta no dólar deve aumentar cerca de 12% preço dos carros novos no Brasil
Análise de consultoria especializada no setor também considera a relação entre carros usados e novos
Um balanço muito aprofundado e relevante foi divulgado nesta quarta-feira (6) pela Bright Consulting, empresa especializada em análises do setor automotivo.
No artigo assinado pelos sócios Cassio Pagliarini e Paulo Cardamone, os especialistas destacam que as montadoras necessitam repassar um aumento em torno de 12% no preço praticado aos consumidores devido ao menor valor do real frente ao dólar, moeda que é a base para commodities e conteúdo importado dos veículos.
Ainda sobre o preço dos automóveis, os especialistas apontam comportamentos importantes que veremos no mercado nas próximas semanas e meses. As regras de isolamento social, por exemplo, causaram grande impacto na mobilidade de pessoas e veículos, o que abalou pesadamente o negócio das locadoras, em grande parte alavancado pelos serviços de mobilidade sob demanda. A consequência foi a devolução em massa de veículos aos pátios das locadoras, que irão acelerar as ações de redução de estoque e queda nos preços dos usados. De acordo com a análise da Bright Consulting, a pressão de preços entre os carros usados vai reverberar nos veículos zero.
“A segurança necessária para a compra de um veículo novo evaporou, tanto pela descapitalização das famílias quanto pela menor utilização dos mesmos. Compre agora e pague no ano que vem tem sido o mote mais frequente das ofertas. Veículos usados, transformados em caixa para pagar despesas, viram seus preços despencarem. As montadoras retardaram seu reinício de operações e trabalharão a venda dos estoques existentes, sem loucuras. Já não se encontram mais exemplos de taxa zero”, detalha a consultoria. “Mesmo com a lógica da crise nos direcionando a pensar que os consumidores irão procurar veículos de entrada, entendemos que o perfil de compra no Brasil de hoje é completamente diferente daquele de 2013/2014. Em um mercado no qual a venda à pessoa física representou 1,2 milhão de veículos, o perfil do comprador de SUV e com dinheiro na mão deverá prevalecer”, acrescenta a Bright.
Na opinião de Pagliarini e Cardamone, as consequências na indústria automobilística serão multifacetadas e permanentes, sendo necessário pensar na nova configuração do mundo pós-pandemia, em especial sobre como os mercados e as atividade comerciais irão se re-estabelecer. Um lado negativo da pandemia fica por conta da previsão de redução de aproximadamente 10 mil empregos nas montadoras e outros 20 mil nas fabricantes de autopeças. Outro ponto é que, de acordo com a Fenabrave, aproximadamente 30% das concessionárias não suportarão passar o mês de maio fechadas.
“Além disso, o temor pela sobrevivência das pequenas e médias empresas aumentou consideravelmente nas últimas 2 semanas, uma vez que o fundo de caixa restante está se acabando. Os bancos receiam socorrer empresas que podem quebrar, o que se traduz em aprovações morosas e taxas mais altas – tudo o que o mercado não precisa”, analisa a consultoria.
Olhando para alguns anos no futuro, os especialistas acreditam que haja, por parte do governo, flexibilização na qualificação das montadoras às regulações de eficiência energética e segurança do programa Rota 2030 e de emissões PL7 e PL8 do Proconve. Achatar a curva das metas para evitar aumento de custos em um momento futuro de recuperação do mercado parece ser razoável. Contudo, aponta o artigo da Bright, postergar obrigações regulatórias por até 3 anos como ventilado em abril traria prejuízos imensos tanto à saúde pública quanto à economia.
Segundo estima a Bright Consulting, aproximadamente 15 mil veículos já vendidos deixaram de ser licenciados em abril, majoritariamente em São Paulo, devido às medidas de isolamento social e ao fechamento do Detran-SP. O volume em questão deverá ser computado às vendas de maio. A empresa estima que 2020 deverá encerrar com 2.155.357 automóveis de passeio licenciados, queda considerável em relação aos 2.665.583 carros e comerciais leves emplacados em 2019. “Nossa metodologia ancora os números na evolução de alguns segmentos e na redução das vendas corporativas, ou seja, o peso de vendas a locadoras deverá diminuir enquanto o peso das vendas PcD deverá aumentar”, ponderam os responsáveis pela Bright Consulting.