Aircross de entrada vira boa opção de compacto
Por R$ 50 mil, versão de entrada substitui a minivan C3 Picasso com bom pacote de série e espaço maior que hatches aventureiros
Muitas vezes criticamos uma empresa por errar sua estratégia, mas geralmente esquecemos que as montadoras precisam planejar um produto com cerca de três anos de antecedência. Sim, o carro que você poderá comprar em 2019 está sendo pensado neste momento.
E como acertar na mosca sem saber exatamente o que o cliente buscará? Exatamente por isso hoje a Citroën decidiu encerrar a carreira do C3 Picasso, minivan compacta derivada do hatch C3 e que chegou ao Brasil em maio de 2011. Na época, parecia lógico ter um modelo familiar que usasse o nome da irmã maior C4 Picasso e de sua antecessora, a Xsara Picasso - o que o iG concordava, aliás.
O que a Citroën só descobriu depois é que o público estava mais a fim de levar para casa o Aircross, na essência o mesmo carro, mas com o visual de inspiração off-road. Então, por que não dar esse ar aventureiro também ao C3 Picasso?
É exatamente disso que se trata o novo Aircross 1.5 Start, versão mais em conta do modelo, com preço de R$ 49.990, simbolicamente encaixado abaixo dos R$ 50 mil. É pouco mais do que a Citroën cobrava do primeiro C3 Picasso GL (R$ 47.990), mas que tinha motor 1.6 litro.
Agora, no entanto, o cliente leva um carro mais alto, com um visual atraente e mais refinado, além de uma lista interessante de equipamentos de série.
De olho nos hatches aventureiros
A sacada da Citroën é clara: atrapalhar a vida dos hatches aventureiros como o CrossFox, Sandero Stepway e o HB20X recém renovado. Todos têm em comum os adereços off-road e alguns a suspensão elevada, para facilitar a passagem por pisos irregulares, mas o Aircross leva vantagem justamente pelo espaço interno bem mais generoso.
De quebra, para quem busca maior eficiência, a versão 1.5 não leva o estepe do lado de fora, o que dispensa o suporte para o pneu que pesa cerca de 18 kg, o mesmo que um criança pequena ou uma mala carregada.
E, para ser honesto, o Aircross não perdeu a graça sem o tal estepe de jipe antigo graças às boas soluções estéticas da equipe brasileira que o desenhou.
Fácil de dirigir
Mesmo na versão 1.5, que não traz alguns itens do Aircross top de linha como ar-condicionado digital e paddle-shifts no volante, o ‘aventureiro’ agrada pelo interior espaçoso, a boa visibilidade e o conjunto mecânico recalibrado.
O motor 1.5 tem 93 cv de potência e pouco mais de 14 quilos de torque e o câmbio manual é o mesmo de cinco marchas já usado anteriormente com uma mudança importante: a relação do diferencial foi alterada em 5% deixando o carro mais econômico. Isso foi possível porque o novo Aircross passa a usar uma direção de assistência elétrica ante a hidráulica usada no modelo antigo. Como é mais eficiente, a direção elétrica permitiu um ganho de energia que permitiu alongar as marchas do carro.
A fabricante também revelou ter reforçado a suspensão para torná-la mais maleável e sem os conhecidos trancos de outros carros. Na prática, ainda assim o Aircross bateu seco em alguns buracos do percurso de teste.
A combinação motor, câmbio, suspensão e direção mostram um carro fácil de guiar e agora um pouco mais ágil em curvas e retomadas, mas é preciso ver como ele se comporta com mais peso – estávamos apenas em dois ocupantes e sem bagagem.
Cadê o botão de desligar a central?
O Aircross passa a incorporar a nova central multimídia da PSA, com espelhamento de smartphones pelo sistema CarPlay (Apple) e Mirror Link. Ela é um pouco confusa de operar já que há alguns botões físicos e outros na tela touchscreen, mas o que chamou nossa atenção mesmo foi a ausência do botão de ligar e desligar a central. Há apenas duas possibilidades de tirá-la do ar: ou desligando a tela por um caminho tortuoso ou apertando os botões de volume simultaneamente para acionar o ‘mute’.
A versão Start tem ar-condicionado manual e acabamento com menos detalhes, mas não transparece simplicidade.
Imagem da marca
A imensa aceitação da picape Hilux antiga mesmo há semanas da aposentadoria revela um aspecto impressionante no mercado brasileiro: o consumidor pesa muito mais o valor de uma marca do que muitas vezes do produto. Sem dúvida, esse é o grande desafio da Citroën. A marca, é verdade que em menor escala que sua irmã Peugeot, não goza de uma imagem tão boa quanto uma Toyota e portanto, não basta ter um bom carro nas mãos, o que parece ser o caso do novo Aircross, mas sim convencer o público de que vale a pena apostar nela.