Adeus do Focus marca o ocaso dos carros racionais
Modelo da Ford, assim como outros automóveis de porte médio, buscava seduzir pela tecnologia, desempenho e prazer de dirigir, virtudes em baixa com o advento dos SUVs
O mercado automobilístico brasileiro teve um momento triste no dia 7 de maio. Na Argentina, o último Focus era produzido pela Ford na fábrica de Pacheco, marcando o fim de uma linha de montagem que durou 20 anos.
Foram duas décadas em que os proprietários do Focus puderam usufruir de um automóvel feito para agradar a eles próprios e não causar inveja no vizinho de vaga. Dirigibilidade refinada, tecnologia, conforto e um estilo inconfundível estiveram entre seus principais atributos nesse período, mas nem toda essa racionalidade foi suficiente para mantê-lo relevante nos últimos anos.
O público que se interessa por carros tem optado cada vez mais pelos utilitários esportivos, na verdade modelos urbanos com visual off-road e geralmente nenhuma aptidão para pisar na terra. É uma escolha que se deve respeitar, é claro, mas que tem feito as montadoras lançarem produtos inferiores tecnicamente, mas nem por isso mais baratos.
Em outras palavras, estamos comprando carros piores apenas por uma questão de status. O único argumento favorável a um SUV é sua maior altura, que torna o acesso mais fácil e oferece uma posição mais elevada de dirigir.
No entanto, o preço pago por essa comodidade é muito elevado. Carros mais altos têm aerodinâmica inferior a de um hatch ou sedan além de serem proporcionalmente mais pesados.
O próprio Focus é um exemplo claro dessa situação surreal. Comparado ao irmão EcoSport, o hatch é muito superior. Quer um exemplo? O consumo de combustível do Focus 2.0, que está longe de ser ideal, é menor do que o EcoSport 2.0, mesmo que o SUV utilize uma calibração que traz menos potência e torque e que, consequentemente, compensaria com economia.
Mas na prática o hatchback consome menos em todos os regimes medidos, seja etanol ou gasolina, estrada ou cidade. E o Focus é ligeiramente mais pesado que o EcoSport. Uma simples comparação de preços de combustívei revela que o SUV da Ford gasta 10% mais que o hatch, o que pode chegar a cerca de R$ 1.200 por ano para um usuário que rode pouco mais de 2.000 km por mês.
Suspensão independente
A vantagem do hatch médio não se resume a isso apenas. O Focus é um produto mais avançado, pensado para mercados mais exigentes e por essa razão tem uma configuração que inclui suspensão independente multibraços no eixo traseira. Isso se traduz em maior conforto e precisão ao guiar. O Eco, ao contrário, usa a surrada solução do eixo de torção, recurso comum em carros compactos, afinal o SUV é derivado do Fiesta.
O Focus também sobra em relação ao acabamento, ao espaço interno e ao ajuste de direção, que tem uma tocada mais direta e ágil. De quebra, basta lembrar que, enquanto o EcoSport sofre para ser aceito na Europa, o Focus já está na 4ª geração por lá, um sinal claro que o modelo é mais reconhecido nesse mercado.
Custo-benefício imbatível
Se não bastasse ser um carro muito melhor que o EcoSport, o Focus é também mais barato. A versão Titanium 2.0, por exemplo, é vendida por R$ 95 mil enquanto o SUV custa R$ 101 mil na versão Titanium Plus, mas com motor 1.5.
Claro que com sua aposentadora já anunciada desde 2018, o Focus virou mico nas lojas e isso afeta seu preço, mas a situação antes disso também não era muito diferente, um sinal claro do desprestígio que os hatches médios têm atualmente.
O Focus, como se sabe, não é um caso isolado. Além da versão sedan, também dando adeus ao mercado, outros carros de porte médio perderam o sentido no Brasil. Entre eles estão os franceses Renault Fluence, Peugeot 308 e 408 e mesmo outro ícone do segmento, o Golf, só vivo por insistência da Volkswagen.
A situação é tão grave nesse sentido que a bola da vez agora são os sedans médios. Embora o Corolla, líder com sobras, siga com um volume respeitável de vendas, em 2019 ele já não tem encontrado tantos clientes. Uma das explicações envolve a chegada do Yaris sedan, “fogo amigo” que tem feito o mesmo que o City com o Civic há uma década, mas sim, os SUVS também já provocam estrago nessa categoria. Para isso basta ver as vendas magras do Cruze, Jetta e do próprio Civic, bem distantes de outras gerações.
Todos eles bem melhores que HR-Vs, Trackers e T-Cross que hoje os colocam em segundo plano assim como o EcoSport fez com o Focus. É para lamentar, sem dúvida.
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