Acidente com GNV no RJ: entenda a causa e a importância dos cuidados com o sistema
Dono do carro morreu após explosão do cilindro de gás durante o abastecimento
Assunto que ganhou as manchetes nesta semana foi a morte de Mário Magalhães da Penha, de 67 anos, vítima de uma explosão do cilindro de gás natural veicular ocorrida durante o abastecimento do veículo.
Devido ao grave ocorrido, a FENIVE (Federação Nacional da Inspeção Veicular) divulgou um importante comunicado sobre o tema, no qual aborda, de forma preliminar, as causas do acidente e reforça os cuidados que motoristas e proprietários de veículos com GNV devem tomar para evitar intercorrências graves com o automóvel.
De acordo com a FENIVE, que está colaborando com as autoridades na investigação do acidente, os especialistas em inspeção veicular que foram até o local do ocorrido observaram, inicialmente, que o cilindro presente no carro envolvido no acidente não é o mesmo que havia sido inspecionado no veículo em 2021.
A inspeção veicular periódica, salienta a federação, é uma das exigências legais para que o carro que passou pela conversão possa circular regularmente. Além disso, análises preliminares do cilindro que estourou apontam que ele foi retirado de um veículo que havia sido roubado em 2016.
É provável, aponta a FENIVE, que o cilindro tenha passado por incêndio e, depois de ter sido repintado e adulterado, foi instalado no veículo. Não é possível afirmar se o proprietário do carro tinha ciência do fato, sendo que outras afirmações só serão possíveis depois do resultado final da perícia, salienta a federação.
Atualmente o Rio de Janeiro é o estado com o maior número de veículos com GNV, com mais de 1,6 milhão registrados com o combustível gasoso. Isso ocorre em grande parte por conta do incentivo fiscal dado pelo estado aos motoristas como forma de incrementar o uso do GNV. No Rio de Janeiro, os proprietários de veículos com GNV pagam uma alíquota menor do IPVA. Por conta disso, o estado também conta com uma grande rede de abastecimento de GNV.
No Brasil, de acordo com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), existem mais de 2,6 milhões de veículos aptos a rodar com Gás Natural Veicular.
Aliado do bolso
Além de ser um combustível considerado “limpo”, o GNV pode representar até 40% de economia nos gastos do motorista em relação aos combustíveis líquidos, dependendo do motor, uso e preço dos combustíveis.
De acordo com a FENIVE, os sistemas modernos de GNV são seguros e oferecem bom desempenho do motor, com economia e segurança. Os componentes, acrescenta a federação, são certificados pelo Inmetro e passam por rigorosos testes de confiabilidade.
Cilindros de GNV, por exemplo, podem ser alvejados por projéteis de fuzil sem estourar e suportam pressões muito maiores do que aquelas alcançadas no abastecimento, salienta a FENIVE.
O GNV pode ser instalado nos veículos usados por meio de um processo simples de modificação veicular: cidadão solicita autorização prévia ao Detran, realiza a instalação do kit em oficina homologada pelo Inmetro, para então realizar a inspeção veicular em empresas acreditadas pelo Inmetro e licenciadas pela Senatran (ITL – Instituição Técnica Licenciada).
Após a inspeção, o veículo é regularizado no Detran, que inclui o combustível no documento.
Inspeção garante a segurança
Todos os anos os veículos com GNV devem passar por inspeção periódica para verificação do sistema GNV e demais sistemas de segurança do veículo.
Quando aprovado, o proprietário do veículo recebe o selo GNV, de porte obrigatório. A cada cinco anos o cilindro deve passar por um processo de requalificação para garantir suas características mecânicas.
Entretanto, aponta a FENIVE, a frota de veículos com instalação irregular de GNV é elevada, colocando todos em risco.
A federação tem feito pesquisas de campo de veículos abastecendo com GNV em diversas cidades, com foco no Rio de Janeiro.
Ficou constatado que mais de 40% dos veículos que foram abastecidos tinham alguma irregularidade.
Cerca de 39% dos veículos pesquisados estavam com a inspeção veicular periódica vencida.
Além disso, outros 15% não tinham nenhuma inspeção registrada. 95% dos veículos pesquisados foram do estado do RJ.
A pesquisa foi realizada com recurso das associações que fazem parte da FENIVE, utilizando o banco de dados dos organismos de inspeção através do aplicativo GNV Legal, desenvolvido pelo grupo Otimiza, que fornece sistemas para as empresas.
Em outros estados, o índice de veículos irregulares passa de 40%, como em Minas Gerais e Paraná, por exemplo.
Perigo do abastecimento irregular
Há estados que possuem leis para tentar coibir o abastecimento de veículos irregulares, exigindo a apresentação do selo GNV, mas a FENIVE entende que somente com sistemas informatizados será possível controlar estes abastecimentos.
Em Santa Catarina há uma lei estadual que prevê a leitura de selo GNV com chip para desbloquear o abastecimento na bomba. Mas a lei ainda está sendo implementada.
Não há estatísticas oficiais de sinistros envolvendo veículos com GNV instalado, mas só no Rio de Janeiro ocorreram pelo menos oito acidentes entre 2016 e 2019.
Houve outro acidente em Maceió, em 2020 e outros três este ano, sendo dois no Rio de Janeiro e um em Fortaleza. Os acidentes, já investigados, ocorreram com veículos irregulares, com cilindros sem condições de uso, conclui a FENIVE.