Abaixo o carro popular, viva o modelo premium no Brasil
Marcas abandonam segmento de entrada em movimento para buscar cliente disposto a pagar mais por um produto que nem sempre é assim tão melhor
Não se trata, é verdade, de uma tendência nova, mas certamente o advento da crise sanitária jogou gasolina nessa fogueira que já queimava há algum tempo. Trata-se da “gourmetização” do automóvel no Brasil.
Traduzindo, o movimento de praticamente todas as montadoras em direção a uma linha de produtos mais cara, que flerta com a ideia de mais conteúdo, status e porte. Trata-se, é verdade, de uma estratégia de salvação para elas, já que o mercado automobilístico brasileiro é sempre um ambiente nocivo aos princípios elementares do capitalismo, ou seja, “vender mais para vender sempre”.
Não, quando se fala em veículos novos por aqui o lema é "vender pouco, mas com grande margem de lucro", afinal muitos modelos hoje não são exatamente produtos de ponta, mas sim reciclagens de plataformas simples e altamente compartilhadas. Em vez de tecnologia, soluções estéticas e de conforto para apelar para emoção, sim, sempre ela, em vez da razão.
O resultado dessa transformação já pode ser sentido entre as marcas ditas generalistas – a despeito de algumas já terem pulado desse barco. Com exceção da Renault e da Fiat, todas as demais cobram pelo seu veículo mais barato valores entre R$ 60 mil e R$ 175 mil – neste caso a Ford, que abandonou o segmento de entrada no começo do ano.
A presença de veículos baratos deve se reduzir nos próximos meses e anos, afinal várias marcas já anunciaram que pretendem oferecer produtos mais equipados e caros a disputar o deficitário segmento de carros populares.
Há também, é claro, o surgimento de um novo tipo de consumidor que não valoriza tanto a propriedade do carro e que utiliza outros meios de transporte. Estes só deverão apelar para o automóvel em situações específicas e por meio de algum tipo de aluguel ou prestação de serviço.
Ou seja, as marcas precisarão se reinventar, mas enquanto isso é preciso encontrar o cliente que ainda se dispõe a bancar valores elevados, já na casa dos seis dígitos no Brasil.
Veja a seguir quais são os carros mais acessíveis das principais marcas generalistas no país:
Fiat – carro mais barato: Fiat Mobi Easy 1.0 – R$ 46.538,00
Líder do mercado, a Fiat ainda tem uma presença importante nos segmentos mais baixos do mercado. O principal produto segue sendo o Mobi, um modelo de pequeno porte que ainda começa na casa dos R$ 40 mil. Mas mesmo modelos antigos como o Grand Siena e o Uno já saem acima de R$ 60 mil, mesmo sabendo que eles não devem durar muito em produção.
Volkswagen – carro mais barato: Gol 1.0 manual – R$ 61.160,00
Quem diria, até o Gol anda flertando com a ideia de não se considerar “popular”. O famoso hatch custa a partir de R$ 61,2 mil mesmo com motor 1.0. O irmão Fox, um sobrevivente, oferece motor 1.6 por um pouco mais – R$ 62,3 mil -, mas está prestes a sair de cena. A Volks ainda tinha o up! que, apesar do tamanho, nunca foi uma pechincha.
Chevrolet – carro mais barato: Onix Joy 1.0 – R$ 60.360,00
Afetada brutalmente pela crise da falta de componentes, a Chevrolet sumiu do mercado de entrada. Nem mesmo o Joy, o Onix da geração anterior, anda fazendo diferença. E olhe que ele é o carro mais barato do país após os subcompactos Mobi e Kwid.
Hyundai – carro mais barato: HB20 Sense 1.0 – R$ 61.290,00
Atual 4ª marca mais vendida do Brasil, a Hyundai tem oferecido o HB20 com preços na casa dos R$ 60 mil, o que pode influenciar no bom volume de vendas do modelo, ao contrário do sedã HB20S, que começa em quase R$ 69 mil.
Toyota – carro mais barato: Yaris 1.3 CVT – R$ 80.990,00
A Toyota é uma marca que evitou o mercado popular, a despeito de ter vendido o Etios a partir de 2012. Neste ano, a montadora japonesa encerrou sua comercialização, o que colocou o Yaris como seu carro mais acessível. No entanto, vendido com câmbio CVT, o hatch compacto não custa menos de R$ 80 mil.
Jeep – carro mais barato – Renegade STD 1.8 – R$ 96.084,00
A Jeep pode ser chamada de premium para alguns, mas a existência de versões mais simples do Renegade contraria essa impressão. Ainda assim, ter um modelo da marca comprado no varejo é algo salgado, começando em R$ 96 mil.
Renault – carro mais barato – Kwid Life 1.0 – R$ 45.090,00
O Kwid tem o mérito de ser o carro mais barato do Brasil, custando pouco mais de R$ 45 mil em valor de tabela. Mas a Renault não parece muito feliz com isso, afinal seus executivos já disseram que o objetivo é subir a marca de nível, oferecendo produtos mais sofisticados. De fato, até modelos que antes eram despojados como o Sandero e o Logan, já beiram os R$ 70 mil, um sinal de que a empresa não perdeu tempo nesse sentido.
Honda – carro mais barato – Fit DX 1.5 CVT – R$ 76.900,00
Assim como a Toyota, também a Honda não flertou com o segmento de entrada. Seu modelo mais barato sempre foi o Fit desde que estreou em 2003. Atualmente, a versão DX até não custa tanto comparada a veículos mais simples e menos globais – R$ 76,9 mil. Pena que a montadora estaria abrindo mão do monovolume em favor do City hatch, cujo preço não deverá ser lá muito convidativo.
Nissan – carro mais barato – V-Drive 1.0 – R$ 64.690,00
A Nissan já foi uma marca que flertou com o estratos iniciais do mercado de veículos novos. Há quase uma década, ela trouxe para o Brasil o March, um hatch que trazia um pacote técnico bastante interessante e que causou fila de espera na época. Entretanto, o modelo, mesmo tornando-se nacional, não confirmou a boa impressão e acabou descontinuado. Hoje a Nissan oferece o sedã V-Drive, o antigo Versa, como carro de entrada custando quase R$ 65 mil (com exceção de São Paulo, onde é mais caro).
Ford – carro mais barato – Ranger Cabine Simples 2.2 diesel – R$ 174.490,00
Quem diria que a marca dona do acessível Ka hoje tivesse como produto mais barato uma picape diesel? Pois é essa a realidade da Ford após descontinuar não só o compacto como o SUV EcoSport. Com elevados prejuízos, a Ford agora quer ser marca premium, com produtos bem mais caros como ficou evidente no lançamento do SUV Bronco Sport.
CAOA Chery – carro mais barato: Tiggo2 – R$ 78.590,00
A chinesa Chery até tentou competir no mercado de carros 1.0 com o QQ, mas não foi bem. A primeira geração era minúscula, embora bastante barata. A segunda geração melhorou bastante o produto, porém, não teve apelo. Já nas mãos do grupo CAOA, a marca focou sua atuação em veículos mais equipados, incluindo o Tiggo2, que começa em R$ 78,6 mil.
Peugeot – carro mais barato: 208 Life Pack 1.6 – R$ 69.990,00
Para uma marca que há tempos afirma que é ‘premium’ a Peugeot ainda tem modelos com valores mais competitivos como a versão de entrada do novo 208. Por R$ 70 mil, ele não é tão caro quanto os rivais Yaris e Polo, mas que vendem mais.
Mitsubishi – carro mais barato: ASX – R$ 130.990,00
O ASX está há anos-luz de ser carro de entrada, mas é o que a Mitsubishi tem de mais barato hoje, após deixar de vender no Brasil o sedã médio Lancer. Vale lembrar que na Ásia a marca atua no segmento de entrada com carros urbanos bem
Citroën – carro mais barato: C4 Cactus Live – R$ 89.990,00
Com o portfólio esvaziado momentamente, a Citroën tem hoje apenas o SUV C4 Cactus à venda (sem contar os utilitários). O modelo até possui um preço inicial razoável para a categoria, de R$ 90 mil na versão Live automática. Mas, ao contrário, das suas concorrentes, a marca dos dois ‘chevrons’ deve contar com um veículo mais barato, o sucessor do C3.
Kia – carro mais barato: Rio 1.6 automático – R$ 84.990,00
Subsidiária da Hyundai, a Kia há tempos não tem mais uma representatividade significativa no Brasil. Mesmo trazendo o compacto Rio e o sedã Cerato do México, a marca sul-coreana não consegue competir em igualdade no Brasil. O reflexo disso se traduz emplacamentos modestos, mesmo quando teve o pequenino Picanto como modelo de entrada.
JAC – carro mais barato: T40 Plus – R$ 86.490,00
Há 10 anos, a JAC desembarcou no Brasil pelas mãos do empresário Sergio Habib (que havia trazido a Citroën na década de 60) com metas ambiciosas. Sua linha de veículos era bem equipada e custava a partir de R$ 37.900 na época, menos do que modelos nacionais sem metade dos seus itens. A fase popular, no entanto, naufragou com a elevação do imposto de importação e o plano InovarAuto. Nesse meio tempo, a empresa chinesa e sua sócia prometeram muito e entregaram pouco. Hoje ela sobrevive com vendas irrisórias de modelos cujo crossover T40 Plus é o mais barato.
Obs: valores sugeridos em junho de 2021 para compra em São Paulo (exceto Nissan). Fonte: site das marcas.
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