A trajetória dos hatches médios Fiat no Brasil
Novo Bravo tem a missão de consolidar a marca no segmento, onde já atuou com o Stilo, Brava e Tipo
A história da Fiat no segmento dos hatchbacks médios mistura momentos conturbados com bons resultados de vendas. Especialista de longa data na fabricação de automóveis compactos, a montadora, ao menos no Brasil, novamente busca retocar sua imagem no nicho frente aos concorrentes com o Bravo, que chega para substituir a linha Stilo. A história da marca no ramo ainda contempla o apagado Brava, que não convenceu, e o Tipo, que viveu momentos de glória, chegando a ser o veículo importado mais vendido do Brasil, e depois foi ao fracasso quando foram constatados diversos casos de incêndio causados por uma falha de construção.
Tipo
No Brasil, no início dos 1990, os destaques do segmento eram o Volkswagen Golf (geração Mark 3) e o Ford Escort. Pouco adiante ainda viria o Chevrolet Astra, importado da Bélgica. A resposta da Fiat aos seus rivais foi o lançamento do Tipo, em 1993. Inicialmente importado da Itália, o carro vinha nas opções com motor 1.6 e 2.0 nas versões com 2 ou 4 portas. O carro era basicamente uma versão hatch do então Tempra (feito no Brasil entre 1992 e 1999), outra aposta da empresa para quem buscava um sedã médio.
O Tipo foi sucesso imediato. Em poucos meses já era o carro importado mais vendido do Brasil, o que motivou a Fiat a trazer sua produção para Minas Gerais em 1995. Mas em como uma história de tragédia, o Tipo foi do estrelato ao fracasso de maneira vertiginosa. Constatou-se que os modelos fabricados em 93, 94 e 95 podiam pegar fogo.
O problema era um defeito na direção hidráulica, no qual uma mangueira podia se romper causando o derramamento de fluido inflamável sobre o motor, resultando nos incêndios. Para solucionar o percalço, a marca fez dois recalls do carro. Mas a imagem do Tipo já estava prejudicada e suas vendas começaram a cair de forma abrupta. Por conta disso, sua produção nacional foi encerrada logo em 1996.
O chamariz de vendas para o Tipo era seu bom pacote de equipamentos e o design diferenciada para época com um preço justo. Em um tempo que pouco se falava de segurança, o modelo da Fiat foi o primeiro automóvel fabricado no país com opcional de airbags frontais. A série de imagem da linha foi o Tipo Sedicivalvole (16 válvulas, em italiano), cujo motor 2.0 gerava 137 cv. Segundo dados da marca, o modelo acelerava de 0 a 100 km/h em 9s8 e atingia 206 km/h. O destaque era seu visual exclusivo, que incluía rodas aro 16” com desenho especial e os para-choques personalizados com faixas vermelhas.
Brava
O Brava, teoricamente, é a primeira geração do Bravo atual. Porém, a diferença no nome é por conta de sua configuração 4 portas. Na Europa, a alcunha com a letra “o” no final representava a versão 2 portas. Mas esse modelo não foi vendido no Brasil. O carro foi um sinal de persistência da Fiat em ter um hatch médio, que após quase três anos ausente do segmento apelou, em 1999, para o lançamento da versão encurtada do Marea, que havia substituído o Tempra.
Mais uma vez a marca italiana atacou no segmento com um carro bem equipado e com desenho interessante. Por dentro, tinha bom espaço e acabamento de qualidade. Visto de fora, a traseira se diferenciava pelas lanternas em forma de filetes. Foi oferecido com os motores 1.6 de 99 cv, o mesmo do Palio na época, e 1.8 de 132 cv. Em 2001, a potência do motor de menor cilindrada subiu para 106 cv. Porém, o fantasma do Tipo ainda assombrava a Fiat, que não conseguiu surpreender com o Brava.
Fabricado até 2003, o Brava era um bom carro. Tinha a mesma qualidade de dirigibilidade do Marea e oferecia relativo conforto. Porém, ficou conhecido na praça por seus problemas eletrônicos. Ainda sim, continua sendo uma boa opção no mercado de usados com preços convidativos.
Stilo
Lançado em 2001 na Europa, o Stilo no ano seguinte já era produzido em Betim. Como seus antecessores, trouxe mais uma vez a fórmula de desenho atraente e conforto. Era oferecido nas versões com motores 1.8 8V ou 16V e o 2.4 5 cilindros da série Abarth, com 167 cv. Foi um carro que caiu bem no gosto do brasileiro e passou a incomodar constantemente a concorrência com bons números de vendas. Algumas de suas inovações era a direção eletro-hidráulica ajustável e o teto solar panorâmico Sky Window, uma das principais características do modelo.
Em 2004, a Fiat homenageou Michael Schumacher, que se tornara heptcampeão da Fórmula 1 naquele ano, com a série especial Stilo Schumacher. O destaque do carro eram as rodas aro 18” com desenho único e as opções de pintura nas cores amarelo ou vermelho. A associação deu certo, e o nome do piloto alemão voltou a aparecer no modelo novamente em 2006, com linha Schumacher Season,
Também em 2006 o Stilo ganhou motorização 1.8 8V flex e se tornou também o primeiro carro fabricado no Brasil a ter opção de Bluetooth integrado para conexão com telefone celular. Dois anos depois, a Fiat realizou o primeiro facelift no carro e lançou seu câmbio automatizado Dualogic. Contestado no início, a transmissão diferenciada nos modelos seguintes foi bastante aprimorada. Porém, ainda em 2008, a marca encerrou a produção da série esportiva Abarth.
E como em um golpe de azar, a Fiat mais uma vez se viu em maus lençóis com um hatch médio de sua linha. Em março de 2010, a fabricante foi intimada pela Secretaria de Direito Econômico a realizar o recall do Stilo por conta da notificação de 30 acidentes causado pelo desacoplamento da roda traseira do carro. As ocorrências foram registradas entre 2007 e 2008, sendo que em alguns casos houve morte de passageiros. Resultados periciais concluíram que a peça em investigação apresentava fadiga além do normal, por isso acabava quebrando. Além da revisão de milhares de carros, a fabricante teve de pagar uma multa de R$ 3 milhões ao Procon.