Peruas: elas ainda existem!

Modelo que já foi sinônimo de carro familiar, as station wagons travam uma batalha por espaço com os SUVs
Volkswagen SpaceCross 2017

Volkswagen SpaceCross 2017 | Imagem: AUTOO

Foi com a Simca Jangada, na década de 1960, que os brasileiros conheceram as stations wagons, ou as famosas “peruas” como caiu no gosto popular. De lá para cá elas tornaram-se símbolos do carro para quem tinha família grande ou precisava de espaço.

Os anos se passaram, as necessidades dos consumidores mudaram (bem como o tamanho das famílias) e seja no Brasil como no resto do mundo as stations começaram a sentir seu reinado abalado com o advento das minivans e monovolumes a partir da década de 1980. Com suas carrocerias mais altas e investindo em ângulos retos, as minivans começaram a se tornar a nova moda para transportar sua família com conforto.

Essa foi a primeira batalha das station wagons na guerra da sobrivência. A segunda onda, contudo, parece que terá efeitos avassaladores sobre a categoria. Os responsáveis pela debandada dos clientes do segmento foram os utilitários esportivos compactos, que por aqui surgiram com o início das vendas do Ford EcoSport em 2003.

Veja só o que ocorreu com o Volkswagen Space Cross, nosso personagem para esta matéria e que completa cinco anos de mercado em 2016. Sua trajetória no Brasil começou em 2011 ainda importada da Argentina. Em 2012, seu primeiro ano cheio de vendas, ela ficou na décima colocação do ranking de vendas da categoria, somando 5.748 unidades vendidas. Tudo bem que o mercado não estava em uma situação tão crítica como agora, mas em 2015 somente 416 Space Cross ganharam as ruas do país.  

E não é que faltam atributos para a Space Cross, muito pelo contrário. O novo motor 1.6 16V caiu como uma luva para a station, formando uma boa dupla com o câmbio manual de 6 marchas com seus engates precisos e justos, seguindo um padrão que é referência nesse assunto.

Quem entra na Space Cross vai até encontrar bandejas para os passageiros do banco traseiro e um espaço adequado para quatro adultos viajarem com conforto. O porta-malas de 440 litros, que pode ser explorado até o teto caso você precise acomodar objetos grandes como um vaso, por exemplo, nos mostram como as stations são camaradas quando precisamos de versatilidade para o dia a dia.

A grande questão que talvez marcou uma predileção cada vez maior para os SUVs diz respeito a duas coisas: a posição de dirigir e o aproveitamento do espaço interno.

Foi notório como o público feminino foi magnetizado pela sensação de controle e maior domínio sobre a via que os utilitários esportivos proporcionam graças a maior altura em relação ao solo. O design, mais imponente e robusto em relação aos demais carros de passeio, também tem seu apelo.

Na medida em que crescem na vertical, os SUVs proporcionam que engenheiros e designers explorem de uma forma mais eficiente o habitáculo. Quem já se acomodou no banco traseiro de um Hyundai ix35, apenas para citar um deles, sabe do que estamos falando. E, para quem tem família, nada melhor do que muito espaço interno, certo?

Só que as tradicionais station wagons estão ainda vivas para satisfatizer aquela parcela cada vez menor de motoristas que não dão o braço a torcer e não querem dirigir a vários centímetros do chão. Pegue a própria Space Cross como exemplo ou, ainda dentro da linha Volkswagen, a excelente Golf Variant, e veja como elas se comportam ao rodar.

Mais perto do chão, as “peruas” não ficam nos lembrando a todo momento da carroceria alta e um pouco desajeitada de um SUV, que tem mais facilidade para inclinar nas curvas. Elas são a salvação para aqueles puristas que, mesmo por terem família, não querem deixar de lado o prazer de estar ao volante de um bom carro.

E essa parece ser a tônica que vai delinear as station wagons remanescentes da guerra mercadológica com os SUVs: o foco cada vez maior na esportividade. Logo, elas podem até se tornar produtos de nicho, com preço até maior em relação aos demais modelos. Os R$ 79.540 que a Volkswagen pede pela Space Cross não nos deixam mentir. O mesmo pode ser dito da Golf Variant, que parte de R$ 89.750.

Ainda dando um suspiro de relevância no mercado, a Fiat Weekend registra de janeiro a junho deste ano 3.616 unidades vendidas, a Space Fox estaciona nas 1.239 unidades e a Space Cross somente 186. Ao todo, as “peruas” venderam somente 5.041 em seis meses. No mesmo período, o Honda Fit isolado foi a opção de 13.552 pessoas e o líder entre os SUVs compactos, o Honda HR-V, vendeu mais que o dobro do irmão monovolume, totalizando 30.884 unidades ao longo do primeiro semestre de 2016. Cada vez mais sozinhas no mercado, está na hora das stations colherem os frutos de quase 60 anos em atividade desde a Simca Jangada e partir para uma merecida aposentadoria. 

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