Jeep Experience 2015: porque se sujar faz bem

Desbravamos o deserto de Moab, nos Estados Unidos, a bordo do SUV Cherokee Trailhawk, já à venda no Brasil

Desbravando as desafiadoras terras de Moab com o Jeep Cherokee Trailhawk | Imagem: Jeep

Jipeiros são aventureiros por obrigação. Levar dez horas para cruzar um trecho de oito quilômetros, conviver com insetos – muitas vezes peçonhentos -, com a lama, poeira ou mesmo com a falta de infraestrutura, não são problemas para eles. Afinal, no fim do dia, o pôr-do-sol ou a vista do cume da montanha irão compensar. Na falta de ambos, a farra do percurso - porque jipeiros sempre andam em bando - também servirá como recompensa, adicionada às inúmeras histórias para contar.

Por sorte, nasci em uma família de jipeiros e, no auge dos meus 30 anos, coleciono centenas dessas histórias. Este foi, inclusive, um fator determinante para ter me tornado uma mulher sem frescuras, amante da natureza e, de quebra, ter adotado o jornalismo automotivo como profissão. Se vos escrevo hoje aqui é por que lá atrás sucumbi ao encantamento deste estilo de vida simples e apaixonado que mistura combustível e aventura.

Novamente por sorte ou obra do destino, fui convidada pela Jeep para uma aventura digna de ser contada para os netos, o Jeep Experience 2015. Antes de iniciar meu relato, quero deixar claro que esta não é uma simples avaliação do Cherokee Trailhawk, que chegou ao Brasil em março deste ano, mas sobretudo uma reflexão do quanto perdemos por deixarmos de viver momentos revigorantes como vivi a bordo deste Jeep, em Moab, nos Estados Unidos. E reforço, especialmente para aqueles que nunca sujaram o pé de lama na vida: vale muito a pena.

Onde: Deserto de Moab

Para que o leitor entenda melhor, o ápice para qualquer jipeiro que se preze - de qualquer canto do mundo - é explorar as terras desafiadoras da região de Moab.

A palavra Moab tem origem bíblica e se refere a uma área situada na margem oriental do Rio Jordão, na Palestina. Fisicamente, a região é um vale verde no meio do deserto e, pelas semelhanças, os mórmons (religião predominante dos habitantes do povoado norte-americano) batizaram a pequena cidade no estado americano de Utah com o mesmo nome. Ela está a 1.227 metros acima do nível do mar e atrai anualmente muitos aventureiros em busca de expedições a pé, de bike, de jipe ou UTVs (espécie de quadriciclo para duas ou quatro pessoas).

Mesmo quem não tem DNA aventureiro, de certo conhece as terras de Moab pela tela do cinema. O local foi cenário de diversos filmes, desde “Westerns” de John Wayne, até “Indiana Jones e a última cruzada”, “Missão Impossível II”, “Hulk”, “127 Horas”, e o mais recente “Transformers 4: A Era da Extinção”. Para mim, foi cenário do teste do Jeep Cherokee Trailhawk.

Diário de viagem - Parte 1

Pousamos no aeroporto de Grand Junction, no Colorado, e rodamos cerca de 1h40 em uma minivan até chegarmos ao Rancho Sorrel River, onde passaríamos a noite. Ao adentrarmos na paisagem inóspita, me chamou a atenção que percorremos milhas e milhas sem cruzar um único posto de combustível - para abastecer, só no centro de Moab. O rancho pôde ser avistado de longe, um perímetro verde às margens do Rio Colorado, quase um oásis em meio às montanhas terracota, com hortas, pastos, cavalos, charmosas cabanas e mais de dez tipos de cervejas locais (além da paisagem, o estado de Utah é famoso também pelas micro cervejarias ou “breweries” como são chamadas). E nada como degustar diferentes cervejas com sabor local, rodeada pela surpreendente paisagem de deserto e montanhas.

Após uma noite de sono, era hora de colocar na mochila apenas o necessário, fazer o primeiro contato com o Cherokee Trailhawk e começar a aventura. O ponto inicial a ser levantado sobre este SUV - que caberia tranquilamente à rotina de uma mãe que leva seus filhos à escola (sim, esta é a primeira impressão que ele passa, não tem jeito) – é que ele é muito mais capaz na prática do fora de estrada do que se imagina. Isso, graças ao selo Trail Rated que ostenta nas laterais, e identifica os modelos mais valentes dentro da linha Jeep.

Além do logo da Jeep e das sete fendas, pouco o Cherokee lembra os demais veículos da linha. O design agressivo e futurista que divide opiniões, até que caiu bem à versão “trilheira”, onde os cromados da configuração Limited foram substituídos por peças pintadas de preto.

A versão Limited, já avaliada pelo AUTOO, embora tenha tração 4x4, tem muito mais aptidão para a cidade. Já a Trailhawk difere pelos pneus de uso misto com rodas aro 17, para-choques mais robustos e com melhores ângulos de entrada e saída - 29,8° e 32,1°, respectivamente – ganchos para ancoragem de reboque, sistema de tração 4x4 com bloqueio de diferencial traseiro e reduzida, controle de descida (HDC) e o exclusivo “piloto automático off-road". Este último funciona no plano e em subidas, mas me recusei a testá-lo ali, naquela trilha. Para quem praticamente nasceu em um jipe é uma frustração deixar o carro fazer tudo por você - com este sistema o motorista controla apenas a direção. Ok, você pode dizer que deve ser útil a um condutor inexperiente no fora de estrada. Concordo, mas sugiro que, se essa for sua condição, convoque alguém experiente para te dar alguns toques antes de se embrenhar sozinho no mato.

Voltando ao percurso, justifico mais uma vez minha opção em não usar o “piloto automático off-road”: o nome da trilha escolhida pela Jeep é Hell’s Revenge, ou Vingança do Inferno, traduzindo para o português. São apenas 10 quilômetros que podem ser aterrorizantes para quem não tem adrenalina nas veias. Os jipes praticamente escalam pedras arenosas e descem ribanceiras. O trecho lembra um passeio de montanha-russa em câmera lenta, a diferença é que você está no comando do “carrinho”. Um erro e você e o carro vão parar lá embaixo. Uma delícia!

No Brasil, o Cherokee Trailhawk vem equipado com o bloco V6 3.2 (a gasolina) de 271 cv e 32,2 kgfm de torque, modelo que testamos. No entanto, na terra do Tio Sam ele também é oferecido com um motor de 2,4 litros e 184 cv (que deve equipar em breve o pupilo Renegade no Brasil).

A facilidade de pilotagem em trechos “casca grossa” impressiona. O Cherokee é um SUV de luxo, não pula como um jipe, não é rústico como um jipe, não vaza óleo como um jipe, mas passou onde os UTVs e os jipões preparados passaram sem esforço. A diferença é que nele você está a bordo de um veículo com suspensão macia e confortável, com uma vasta lista de equipamentos como ar condicionado digital dual zone, sistema multimídia Uconnect com tela sensível ao toque de 8,4 polegadas, bancos ventilados e reguláveis eletricamente (incluindo ajuste lombar), mais um monte de outros mimos. Até internet ele tem!

Após quatro horas para percorrermos os 10 quilômetros da Hell’s Revenge, partimos rumo ao mirante Dome Plateau, local onde faríamos a parada para o almoço. Na estrada de terra a poeira fina como talco sobe, entra pelo nariz, boca, olhos e gruda em absolutamente tudo. Isso porque eu e minha parceira de viagem optamos por mantermos as janelas abertas para literalmente sentirmos a natureza o tempo todo. Foi gostoso, exceto para a Jeep, que deve ter sofrido para limpar o interior do veículo depois. Neste trecho, pudemos aumentar a velocidade e sentir as trocas precisas e rápidas da caixa de transmissão automática ZF de nove velocidades.

Chegando ao mirante, água fresca, um sanduba “sarado”, café ao estilo rústico preparado na brasa e uma privilegiada vista do Rio Colorado e do Castle Valley a uma altitude de 1.750 metros.

Continuamos a viagem para chegar ao local de pernoite antes do escurecer. Batizadas de Wind Caves, as cavernas, cujas paredes ostentavam inscrições antigas de índios norte-americanos, serviram de hotel, as barracas eram quartos e os sacos de dormir, as camas. Uma bela estrutura de camping no meio do nada que nos deixou perplexos. Banho não tinha, mas um belo jantar regado a muito vinho, fogueira e o violeiro Sand tocando e cantando clássicos da música country. Quando escureceu, as estrelas vieram em quantidade e intens