CAOA tenta fazer da Chery a sua nova 'Hyundai'
Mas, apesar da imensa exposição na mídia, parceria com a marca chinesa ainda não decolou
Quem estava acostumado com a publicidade agressiva da Hyundai no Brasil, que abusava das frases arrogantes e dos prêmios que a colocavam acima das marcas de luxo deve ter notado alguma semelhança com alguns anúncios veiculados nos últimos meses em jornais e revistas.
Nesse caso a marca em questão, a CAOA Chery, substitui a montadora sul-coreana na repetida estratégia de enaltecer suas conquistas. As semelhanças, no entanto, param por aí. Enquanto a Hyundai era apenas uma marca quase sem identidade e com presença tímida no Brasil no início dos anos 2000, a Chery já está perto de completar uma década em solo nacional e até uma fábrica ergueu no país.
Socorrida pelo grupo CAOA, a montadora chinesa agora tenta viabilizar sua permanência no Brasil e não poderia ter optado por uma estratégia mais radical. O parceiro nacional é conhecido por ter desbancado concorrentes primeiro como maior distribuidor Ford do Brasil e depois por levar a Hyundai a ser uma marca com uma imagem até mais admirada que em muitos outros mercados.
Agora que está num litígio com a Hyundai, a CAOA tem focado em realizar o milagre de criar desejo pelos carros da Chery. O projeto, no entanto, é ao mesmo tempo mais ousado e complexo. O empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade ambiciona criar uma montadora nacional, daí ter associado seu nome à Chery.
Alguns passos nesse sentido a CAOA tem dado como possuir uma fábrica própria em Anápolis (GO) onde monta modelos da Hyundai por enquanto e irá produzir carros da montadora chinesa em breve.
O problema é que até aqui o projeto ainda não decolou. É cedo para afirmar que não vamos ver pessoas implorando por um “CAOA Chery” em sua garagem, mas não é assim tão simples transformar carros apagados e sem nada especial em imediatos sucessos de vendas.
Se a CAOA teve mérito na transformação da Hyundai há pouco mais de dez anos é verdade que ela aproveitou um momento especial dos coreanos que acertaram o design de seus carros como o Santa Fe, Azera, i30 e Tucson para então oferecê-los na época por preços tão competitivos que a concorrência a acusou de “dumping”, quando uma empresa toma prejuízo para ganhar participação de mercado.
Não é bem assim
O caso Chery, por outro lado, revela dificuldades como produtos sem brilho e que não chegam a ser uma pechincha. O esmero de construção chinês também ainda não virou realidade e maturidade da indústria do país ainda está distante dos coreanos na mesma época.
Esse abismo, no entanto, não tem impedido que a CAOA abuse de algumas frases de efeito como afirmar que “o grupo CAOA e a Jaguar-Land Rover escolheram o mesmo caminho para crescer” ao se unir à Chery. Embora no anúncio veiculado em jornais explica-se que a CAOA fechou parceria no Brasil e os ingleses (e indianos afinal a JLR pertence à Tata), na China fato é que não se trata da mesma situação.
A CAOA adquiriu 51% da Chery no Brasil a fim de controlar a produção e comercialização dos carros chineses aqui. Já a Jaguar Land Rover fechou uma joint venture com os chineses em ‘50-50’ para produzir os modelos britânicos na China, condição hoje inevitável para colocar os pés no maior mercado de automóveis do mundo.
Sim, a CAOA Chery já é hoje a marca chinesa mais vendida do Brasil, algo não tão difícil afinal JAC e Lifan não tem uma operação tão grande por aqui, mas vale a pena desconfiar um pouco se ver por aí matérias elogiosas ao grupo ou folhetos como o que afirma que ela foi “a marca que mais cresceu em julho”. Novamente, uma frase verdadeira, porém, num contexto falso.
Tem-se a impressão que a CAOA Chery vendeu horrores quando emplacou menos de 730 unidades, menos do que faz a também coreana Kia que não tem fábrica no país. Talvez fosse melhor que as sócias investissem mais em melhorar seus produtos em tecnologia e conteúdo nacional (apenas 20% no caso do Tiggo 2) antes de sair por aí tentando convencer o público de que ela já é um sucesso. Ainda não é.